Análise laboratorial com luz infravermelha prediz casos graves de Covid-19
Pesquisadores desenvolveram metodologia para realizar a predição do estado crítico de pacientes com Covid-19. O grupo de cientistas, liderado pelo professor Herculano Martinho da UFABC, obteve resultados que mostram a viabilidade da identificação prévia de casos sujeitos a reações ultraexageradas do sistema imunológico (mais informações abaixo) com o uso de luz infravermelha. Essa informação antecipada permite a prevenção do agravamento do quadro clínico de enfermos, especialmente por meio de tratamento à base de antialérgicos específicos .
O estudo conseguiu identificar a pré-disposição para o problema por meio da análise do nível de absorção de luz infravermelha em uma microgota de plasma sanguíneo. Herculano explica que o resultado da interação do feixe luminoso com vibrações moleculares — determinando o nível em que isso acontece e em que quantidade — revela a propensão para um maior grau de fatalidade.
Figura 1. Representação de uma imunoglobulina. A sua estrutura lembra a letra “Y”, e em sua base existem moléculas ligadas de açucares, como a Fucose. No detalhe, são vemos as ligações químicas e os grupos funcionais da Fucose. Esses grupos estão em movimento, são as vibrações moleculares.
O professor da UFABC destaca que a sensibilidade (capacidade de distinguir um positivo verdadeiro) da técnica foi de 100%, apresentando performance do método comparável ao padrão-ouro dos testes imunoenzimáticos (ELISA) e de quimioluminescência (CLIA). Ele conta que atualmente ocorre um trabalho de análise de dados de 500 pacientes, incluindo outras doenças respiratórias e inflamatórias, para identificar possíveis sinais interferentes.
As observações ocorrem em equipamento comercial da Central Multiusuário da UFABC com tecnologia de mensuração desenvolvida pelo grupo de pesquisadores. Além de Herculano, integram o projeto a professora Janete Dias Almeida da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o professor Paulo Henrique Braz da Silva da Universidade de São Paulo (USP) e o professor José Angelo Lauletta Lindoso do Instituto de Infectologia Emilio Ribas.
Figura 2. Representação do processo de absorção de infravermelho pela micro-gota.
Tempestade
As reações ultraexageradas do sistema imunológico são ocorrências que se tornaram associadas aos quadros graves da Covid-19. Milhares de artigos científicos vem reportando a correlação do maior grau de letalidade da doença com o comportamento exacerbado do sistema imune (fenômeno conhecido como “tempestade de citocinas”). Segundo o professor Herculano, essa síndrome relaciona-se com a menor quantidade de moléculas de açúcar ligadas às imunoglobulinas, proteínas que circulam no sangue e que, dentre várias tarefas, influenciam o funcionamento do sistema imunológico.
Artigo da Scientific Reports (Nature): Micro-Fourier-transform infrared reflectance spectroscopy as tool for probing IgG glycosylation in COVID-19 patients
Texto: Assessoria de Comunicação e Imprensa (ACI UFABC). Imagens: professor Herculano Martinho (UFABC)
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