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Engenharia de Materiais tem primeira dupla titulação com Universidade de Sorbonne

Publicado: Quinta, 10 de Março de 2022, 15h16

O estudante Gustavo Afonso de Engenharia de Materiais tornou-se o primeiro aluno a obter o duplo diploma pelo programa Rede Brasil França para a Internacionalização da Formação de Engenheiros de Materiais (BRAFIMAT). A formatura na Polytech Sorbonne (faculdade de engenharia da Universidade de Sorbonne) ocorreu em novembro do ano passado e conferiu a ele o direito também ao título no curso da UFABC. O projeto faz parte das iniciativas de intercâmbio "Brafitec" para alunos de graduação em engenharia e conta com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Na UFABC, o programa funciona há quatro anos com coordenação da professora Mathilde Julienne Gisèle Champeau e apoio da Assessoria de Relações Internacionais. Até o momento, oito alunos foram selecionados para estudar em períodos de um ou dois anos em cinco instituições francesas e uma aluna do país europeu veio à Universidade para realizar disciplinas e estágio em pesquisa.

Para a professora Champeau, a participação no BRAFIMAT permitiu agregar ideias pedagógicas na Engenharia de Materiais e potencializar as colaborações binacionais por meio das discussões entre os professores brasileiros e os da Polytech. Ela afirma que com esse acordo de dupla titulação foi possível "constatar que o excelente nível científico dos alunos da UFABC também é reconhecido na França".

A docente destaca a satisfação pessoal por servir como ponte entre a UFABC e uma instituição de seu país de origem. "Abri a meus alunos uma oportunidade de enriquecimento pessoal, profissional e de familiarização com a cultura francesa."

Gustavo Afonso ingressou na rede de internacionalização em 2019 por meio de edital para mobilidade acadêmica da Assessoria de Relações Internacionais. Ele escreveu um relato sobre as experiências vividas nesse período de intercâmbio.

foto gustavo afonso duplo diploma ufabc sorbonne

Foto: arquivo pessoal

"Ouvi falar do BRAFIMAT pela primeira vez quando ainda estava em mobilidade acadêmica em Offenburg (Alemanha). Depois de ter passado seis meses no exterior e de ter gostado bastante da experiência, decidi que concorreria à bolsa e me inscrevi nas aulas de francês que a UFABC ofereceu pra acompanhar o lançamento do Edital.

Durante quatro quadrimestres tive aulas do novo idioma, o que me permitiu chegar ao nível B2 da língua – quesito necessário para obter a bolsa. Simultaneamente, fiz várias matérias que contavam pontos na seleção.

Esses 16 meses foram bastante movimentados pra mim, entre quads, estágio e preparação para o intercâmbio. No final, tudo deu certo e fui para França. O objetivo era deixar uma imagem boa da UFABC e fazer com que o acordo de duplo diploma fosse assinado.

Sinceramente, eu não achava que seria tão bem recebido. Tinha a ideia pré-concebida de que encontraria a empáfia como característica da personalidade dos franceses. Definitivamente, não foi o que senti.

No meu primeiro dia de aula praticamente toda a sala (sim, SALA) se dirigiu a mim e a uma outra aluna brasileira da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Diziam: 'Ei, bem-vindo, se precisar de algo tô aqui'. Isso foi muito legal e essa hospitalidade prosseguiu durante todo o meu intercâmbio na França, tanto no trato com professores quanto com alunos ou mesmo pessoas na rua.

Quando paro e penso que só tive seis meses de intercâmbio antes da pandemia, de setembro de 2019 até janeiro de 2020, reflito sobre o quanto esse período foi intenso. O sistema francês é bastante diferente do da UFABC, a gente tinha aulas das 8 às 18 horas, o que é um ritmo pesado, ainda mais quando os conteúdos não são na sua língua materna. Felizmente, eu já havia realizado algumas das matérias em andamento, o que me permitiu focar nas inéditas. Deu trabalho, mas eu estava preparado e digo tranquilamente que a UFABC não deve em qualidade para as faculdades estrangeiras.

Na Polytech Sorbonne, o primeiro e segundo anos são comuns aos alunos de Materiais. No terceiro, escolhe-se uma especialidade entre metais, polímeros e cerâmicos. Pra mim foi interessante ver como alguns cursos que refiz na Sorbonne utilizavam os mesmos livros que na UFABC. Algumas aulas que tive lá não são ofertadas aqui e vice-versa, por isso acredito que o duplo diploma resulta num currículo bem completo para um engenheiro de materiais.

Não é só com aulas que se faz um intercâmbio (rs) e o meu não foi diferente. Participei logo na primeira semana do 'AGACAIU' deles – lá chamam de Quais. É basicamente a mesma festa. A diferença é que ao invés do Tamanduateí eles ficam às margens do Sena. PS: achei a música à beira do Tamanduateí melhor.

Um dos últimos passeios que fiz antes do começo da pandemia foi a viagem do SKI. Foi surreal ouvir que em Janeiro todo mundo da faculdade se reúne para esquiar durante uma semana. Durante esses dias eu aprendi o quanto a neve pode ser dura – caía a cada curva da trilha que fica em Valmeinier, nos Alpes. Esse passeio foi sem dúvida o mais empolgante que fiz durante os dois anos que estive lá.

O primeiro semestre passou e a pandemia chegou na França. Lembro que estava em uma festa que os alunos brasileiros da Polytech promoveram para os franceses que viriam ao Brasil no semestre seguinte (dentre eles, uma aluna para a UFABC), quando o governo anunciou o lockdown. De uma hora pra outra, tudo mudou: as aulas seriam à distância, não podíamos mais sair de casa e o clima ficou bem pesado.

A CAPES ofereceu a todos os alunos que estavam fora do país a possibilidade de voltar ao Brasil e encerrar o intercâmbio sem nenhum problema. Decidi ficar. Escolha relativamente fácil, pois ficaria confinado sozinho e sem conviver com o risco de infectar algum familiar ou conhecido. As únicas coisas com as quais precisaria me preocupar seriam as aulas remotas e as visitas semanais ao mercado. E foi assim durante três meses no primeiro confinamento e mais um mês no segundo.

Eu não voltei a ter aulas fora do modelo à distância, mas realizei dois estágios presenciais. Um de laboratório, que durou dois meses entre o segundo e terceiro semestres, na École supérieure de physique et de chimie industrielles de la ville de Paris (ESPCI). O outro foi de cinco meses no III-V Lab, laboratório privado da Nokia e da Thales.

Considerei ambos fora de série. Para se ter ideia, a ESPCI é a universidade onde Pierre e Marie Curie descobriram o Rádio. Lá, fui orientado pelo professor Nicolas Sanson da Polytech Sorbonne em uma pesquisa sobre a síntese verde de nanopartículas de Ouro.

Com tutoria de Nicolas Vaissiere, o estágio no III-V Lab era sobre Epitaxia em Fase Vapor, algo que eu tinha ouvido falar rapidamente em uma das aulas. Foi muito legal descobrir que o responsável da área na qual eu trabalhava, Jean Decobert, havia morado em Campinas e atuado no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPQD) na mesma pesquisa que desenvolve hoje – na época, este centro integrava o Sistema Telebrás. Foi mais um caso em que conheci pessoas que demonstravam carinho especial pelo Brasil e uma boa imagem dos brasileiros.

Toda a experiência, do começo ao fim, foi maravilhosa e muito enriquecedora, tanto do ponto de vista acadêmico como pessoal. Não posso deixar de agradecer muito ao setor de Relações Internacionais da UFABC, à professora Mathilde Champeau, responsável pelo BRAFIMAT, à CAPES e a todo o corpo docente da UFABC, com o qual convivi ao longo de 6 anos. Espero que outros alunos da Materiais tenham a chance de usufruir de um acordo de duplo diploma entre a UFABC e a Polytech Sorbonne."


Assessoria de Comunicação e Imprensa

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