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Lula e ministros revelam bastidores da política externa durante conferência na UFABC

Publicado: Sexta, 19 de Julho de 2013, 15h08

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu a casos e histórias curiosas envolvendo a diplomacia brasileira para ilustrar a sua palestra sobre os últimos dez anos da política externa do país. Ele lembrou episódios que viveu ao lado do seu então vice-presidente José Alencar. Explicou como se opôs à Guerra do Iraque em reunião com George Bush e defendeu o estreitamento das relações com países periféricos na economia mundial. 

O ex-presidente foi convidado para encerrar a "Conferência Nacional 2003 – 2013: Uma nova política externa" na última quinta-feira (18). Lula falou durante mais de uma hora para uma plateia de mais de 500 pessoas no Anfiteatro do Câmpus São Bernardo.

Lula explicou que, em sua opinião, o alinhamento automático aos Estados Unidos na Guerra do Iraque não fazia sentido. "Disse para o Bush que o Brasil não tinha nada contra o Iraque e que a nossa guerra no Brasil era contra a fome". Para ele, a alegação americana de que o país governado por Saddam Hussein detinha armas químicas mostrou-se mentirosa. "(A Guerra do Iraque) foi uma das grandes mentiras contadas no início do século 21", afirmou.

Quando abordou a questão das políticas voltadas aos vizinhos sul-americanos, Lula explicou os detalhes da operação que articulou com outros países para contornar a instabilidade política da Venezuela. "O Fidel me ligou e disse que estávamos entregando a Venezuela para os inimigos ao convidar os Estados Unidos para compor o grupo de amigos do país. Mas depois convencemos também o Chávez que aquela era a melhor saída", explicou.

O ex-presidente tratou ainda da sua tentativa de engajar os líderes dos países desenvolvidos em uma luta mundial contra a fome. Ele voltou a defender o combate à pobreza como uma política de Estado. "O pobre tem que estar no orçamento da União", disse. Citando dados, ele lembrou que a produção de alimentos no mundo seria suficiente para alimentar todas as pessoas. "Não é possível que, no mundo de hoje, alguém vá dormir sem comer", disse.

Ao final da palestra, Lula incentivou os jovens a participar da política. "Se não estiver satisfeito com o prefeito ou presidente, comece a participar. Não neguem a política", disse.

Dias antes, a UFABC havia recebido os dois principais responsáveis pela política externa brasileira nos últimos dez anos. Antonio Patriota, na segunda-feira (15), e Celso Amorim, na terça-feira (16), abordaram os rumos tomados pelas relações exteriores do Brasil a partir do primeiro mandato do governo Lula. Os ministros explicaram as razões e implicações de uma política externa que ambos classificaram como afirmativa.

Patriota, atual ministro das Relações Exteriores, afirmou que um dos méritos da nova política externa está na inclusão do combate à pobreza no debate mundial, além de um esforço para que os organismos internacionais operem de modo mais democrático. "A articulação internacional privilegiava temas financeiros e econômicos. Nesse sentido, houve mudanças", disse.

Para Patriota, foi importante para o Brasil participar das discussões de temas relacionados ao Oriente Médio e reivindicar reformas no Conselho de Segurança da ONU. Segundo o ministro, o Brasil universalizou a sua diplomacia nos últimos anos. "O país tem hoje relações com os 193 países membros da ONU. Mesmo onde não há embaixadas do Brasil, a nossa diplomacia se relaciona de algum modo", afirmou.

Celso Amorim, que esteve à frente da diplomacia brasileira durante os dois mandatos do ex-presidente Lula, afirmou que o país não deve ter medo de ser protagonista e de assumir posições em situações polêmicas, como nas questões internas da Venezuela.

O atual ministro da Defesa também expôs em detalhes as negociações que envolviam a implantação da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas). Ele falou sobre a importância de mudar a agenda em torno da área de livre comércio encampada pelos Estados Unidos. "Mudar um projeto básico dos Estados Unidos não é fácil", afirmou Amorim.

Conferência
A conferência ocorreu entre os últimos dias 15 e 18 de julho. Nesse período, pesquisadores, professores, estudantes, membros de movimentos e organizações sociais debateram a política externa brasileira. Palestras, debates e oficinas fizeram parte da programação do evento. Ao abrir suas portas para um evento dessa magnitude, a UFABC se consolida como um dos canais de discussão sobre os grandes temas nacionais.

Assessoria de Comunicação e Imprensa

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