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A expansão do campo das políticas públicas na universidade brasileira: o caso da UFABC
Artur ZIMERMAN¹
Sidney Jard da SILVA²
Vanessa Elias de OLIVEIRA³
Sidney Jard da SILVA²
Vanessa Elias de OLIVEIRA³
1. Introdução
"De fato, não importa nem mesmo que
nenhuma utopia se realize. Não é preciso.
Só é preciso haver utopia".
Darcy Ribeiro (1986)
O "ABC" da Universidade Federal do ABC (UFABC) representa duas grandes utopias: a utopia científica e tecnológica da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a utopia do desenvolvimento regional das sete cidades do ABC Paulista. O quanto estas utopias serão capazes de convergir na construção de um novo projeto universitário para o país ainda é uma questão em aberto.
Por um lado, é notória a influência da proposta de reforma universitária da Academia Brasileira de Ciências no projeto pedagógico da instituição, o que leva muitos a identificarem a UFABC como fruto de um longo debate sobre a necessidade de se reformar o sistema universitário brasileiro. Por outro, há registros de propostas de criação de uma universidade pública federal no ABC paulista já no início da década de 1960 (CASTILHO 2008), o que remete que outros identifiquem a UFABC como fruto de uma antiga luta regional.
O fato é que na raiz da árvore genealógica da UFABC pode-se situar dois grandes "ABCs", o "ABC de lutas" e o "ABC da ciência". A ascensão ao governo federal das principais lideranças da região, entre as quais o próprio Presidente da República, foi tão fundamental para a criação da nova universidade quanto a participação de eminentes cientistas na formulação do seu projeto pedagógico e na composição da equipe pro tempore, que dirigiu a instituição nos seus primeiros anos de existência (GALATI, 2010).
A inovação tecnológica constitui o cerne da utopia universitária da UFABC. O ponto de convergência das duas grandes utopias que embasaram a criação da universidade foi o conhecimento científico e tecnológico a serviço do desenvolvimento regional.
A própria UFABC coloca-se como uma inovação no sistema universitário brasileiro, que muitos idealizam como a universidade do século XXI. Nesse sentido, ela parece servir como um parâmetro para a reforma universitária e um modelo a ser seguido por outras instituições de ensino superior. A ênfase na interdisciplinaridade é a sua principal marca, mas também o seu principal desafio. Colocar áreas diferentes, uma ao lado da outra é, sem dúvida, uma missão complexa e de difícil operacionalização.
Não obstante, até muito pouco tempo, a recém-criada universidade carecia de uma definição mais abrangente de interdisciplinaridade. Em seus primeiros anos de atividade, a UFABC contentou-se com uma definição cautelosamente conservadora de interdisciplinaridade por campo de saber.
Este artigo traz um pequeno relato da conversão da UFABC de uma "universidade por campo de saber" em uma "universidade plena", no qual destacamos o processo de criação do Bacharelado em Ciências e Humanidades (BCH) e do Bacharelado em Políticas Públicas (BPP) como uma das principais inovações pedagógicas da nova instituição.
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