Coletivo de consumo estimula a produção de pequenos agricultores
Foto: José Luiz de Godoy
Cultivo em sítio transformou-se em fonte de renda para Veruza Siqueira.
Mais de dez mil cestas com alimentos orgânicos e agroecológicos produzidos por pequenos agricultores e entregues em diferentes bairros da região do ABC e da capital. Esse foi o volume aproximado de itens que o Coletivo de Consumo Rural Urbano - Solidariedade Orgânica (CCRU-SOLO) distribuiu nos últimos dois anos. O grupo, idealizado por técnicos administrativos da UFABC, surgiu há quase dez anos com a proposta de popularizar a agroecologia e levar alimentação saudável, por um preço acessível, a moradores de áreas da periferia urbana.
Desde 2014, o CCRUSOLO funciona também como projeto de extensão, com o título “Apoio aos coletivos de consumo na UFABC e na Associação Oeste”. A iniciativa passou a congregar, além de técnicos administrativos, docentes, discentes e bolsistas. As ações do grupo ganharam perspectivas acadêmicas e passaram a gerar estudos nas áreas de agroecologia, economia solidária e soberania alimentar. Atualmente, o projeto articula-se com outras iniciativas, como, por exemplo, uma ação de extensão que realiza um automapeamento da comunidade quilombola Terra Seca-Ribeirão Grande, no município de Barra do Turvo, além de se inserir em disciplinas da UFABC.
Dentre os objetivos permanentes do projeto, a técnica-administrativa e integrante do coletivo Renata Silva ressalta a criação de espaços para que agricultores familiares locais escoem sua produção. Ela conta que a responsabilidade do CCRU-SOLO vai desde a abertura e fechamento de pedidos e contato com agricultores até o planejamento da logística e controle financeiro do abastecimento. Outras iniciativas do projeto incluem formação técnica por meio da promoção de debates, oficinas, mutirões, rodas de conversa, lives temáticas, culinária com produtos do coletivo, campanhas, caravanas de intercâmbio etc.
Comunidades e modelo ecológico
Foto: José Luiz de Godoy |
Pretensão de Renata e do coletivo é realizar feira aberta na UFABC. |
Renata explica que, para integrar a rede de agricultores, a produção agrícola precisa apresentar, como características fundamentais, o modelo de agricultura familiar – preferencialmente, povos e comunidades tradicionais, movimentos de democratização da terra, coletivos de agricultores, cooperativas e associações, mulheres agricultoras e LGBTQIA+ – e a produção orgânica, agroecológica ou em transição. As atividades do projeto incluem, também, visitas de campo ao local de cultivo, para conhecer a história dos responsáveis pela produção e o território em que ela ocorre.
Durante o período da pandemia de covid-19 em que vigoraram maiores restrições, o CCRU-SOLO manteve sua participação no abastecimento de alimentos orgânicos e agroecológicos, com a formação de grupos de consumo em pontos de distribuição espalhados no ABC e na cidade de São Paulo. Além disso, houve a doação de produtos a famílias sem renda de Diadema, comunidades indígenas e trabalhadores terceirizados da UFABC.
O coletivo espera, agora, fortalecer os pontos de distribuição criados nos últimos anos, aprimorar a logística e a comunicação com os consumidores, e avançar na integração de camponeses aos circuitos curtos de distribuição. Renata revela que, ao mesmo tempo em que retoma as entregas nos campi da UFABC, o coletivo pretende explorar as possibilidades políticas e administrativas para a realização de uma feira aberta à comunidade universitária e à comunidade externa. “Também queremos aglutinar experiências e grupos focados na agroecologia, dentro da UFABC, para fortalecer e aprofundar o ensino, a pesquisa e a extensão sobre a agroecologia e a soberania alimentar” – afirma a técnica administrativa.
Mais renda, menos perda
Participante da rede de abastecimento do CCRU-SOLO desde 2016, Veruza Siqueira Fernandes é responsável pela produção agrícola de um sítio em Biritiba Mirim, de sua propriedade. Para ela, “o pequeno agricultor não tem como distribuir sua produção sem contar com iniciativas como a do coletivo e de outros grupos organizados”. A agricultora conta que, se antes tinha uma horta dedicada ao consumo próprio e ao compartilhamento com familiares e amigos, hoje, a comercialização dos produtos cultivados no local são a fonte da renda da família e da manutenção de sua infraestrutura.
Veruza acrescenta que outro ganho, além da capacidade de escoamento, é a obtenção de um preço justo, independentemente da escala dos vegetais (se são pequenos, médios ou grandes). Ela explica que os mercados tradicionais não têm interesse em mercadorias que não apresentam características regulares de aspecto. “A natureza não responde exatamente ao que o consumidor deseja ver em uma banca. Pela comercialização via rede de grupos, a perda de alimentos na horta é mínima” – destaca.
Técnicos administrativos, docentes, discentes e bolsistas que atuam no projeto
Andrea Santos Baca, André Munhoz, Alan Anelli, Carlos Augusto Peres, Isabela Campos, João Domingues Biancolin, Maria Elizabeth da Silva Queijo, Marina Gomes Cornachin, Nor Mustafa Mohamad, Renata Silva, Roberta Kelly Amorim de França e Vinícius Carmo.
Esta matéria é parte da Edição número 01, da Revista Comunicare UFABC.
Assessoria de Comunicação e Imprensa - ACI UFABC
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