Método de análise desenvolvido na UFABC valida normas de biossegurança adotadas durante a pandemia
Desde o começo do plano de retomada gradual das atividades presenciais, em maio de 2021, a testagem para SARS-CoV-2 por meio de análise RT-PCR tem sido uma ferramenta estratégica para a gestão da pandemia na UFABC. Monitorando semanalmente docentes, técnicos administrativos, terceirizados e estagiários (além de discentes, por amostragem), foram realizados mais de 51 mil testes até o final de dezembro de 2022, quando o projeto foi descontinuado. O volume de análises demonstra a capacidade técnica e científica que a UFABC tem para dar respostas a vários problemas, além dos característicos de sua atividade acadêmica.
O reitor Dácio Matheus enfatiza a importância do projeto: “A testagem sempre foi um instrumento primordial de gestão para verificarmos se as nossas atividades estavam dando conta de não agravar a situação”. Ele afirma que a UFABC nunca teve a intenção de usar a testagem para resolver o problema, mas que a iniciativa representa uma maneira eficaz de não deteriorar o quadro de propagação da covid-19. “Somos uma comunidade entre 15 e 16 mil pessoas, o que pode significar um impacto grande na transmissão para a comunidade do entorno e para nós mesmos.”
Feitos os autotestes, as amostras são coletadas e levadas para o Laboratório de Agentes Patogênicos, no Bloco Delta do Campus São Bernardo do Campo, para identificação, organização e análise. |
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Na primeira etapa, cada tubo recebe 900 microlitros (μl) de solução de trizol. O material biológico é solubilizado, desnaturado e inativado. As amostras ficam incubadas por dez minutos em temperatura ambiente. |
Ao tubo contendo a solução de trizol são adicionados 200 microlitros de clorofórmio, seguido de centrifugação por cinco minutos para a formação das fases (RNA na superior, DNA na interfase e as proteínas na inferior). |
A fase aquosa é transferida. São adicionados 900 μl de álcool absoluto e tudo é centrifugado por 15 minutos. Ao pellet formado, com RNA, são acrescidos 900 μl de álcool a 70%, seguido de centrifugação por cinco minutos. |
Definição:
Trizol: solução composta de fenol, clorofórmio e tiocianato de guanidina;
RNA: ácido ribonucleico, molécula responsável pela síntese de proteínas e controle da expressão gênica nas células do corpo;
Idealizadora do método de detecçãoIdealizadora do método de detecçãode COVID-19 por RT-PCR, professoraMárcia Sperança destaca a inovação apartir da coleta de saliva. |
À medida que ocorria o retorno gradual, os dados apresentados nas coletas converteram-se em indicadores, que passaram a validar normas de biossegurança. Isso garantiu a proteção da comunidade acadêmica e do entorno, e criou oportunidades de diálogo com outras instituições de ensino e pesquisa e as secretarias de saúde locais. Além disso, incluem-se as medidas de profilaxia, limpeza, disponibilidade de álcool em gel e, sobretudo, o uso de máscaras de proteção.
Desde o início da pandemia, a UFABC preocupou-se em desenvolver pesquisas e participar ativamente de projetos de combate ao novo coronavírus — cerca de 80 iniciativas referentes a essa questão foram promovidas. Elaborada pela professora Márcia Sperança, a testagem adotada na Universidade baseou-se em rígidos critérios e padrões de segurança e saúde pública de organizações internacionais. A eficácia do teste foi comprovada em estudos comparados conduzidos em parceria com o Laboratório de Análises Clínicas do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC (FMABC).
Ainda em 2020, a pesquisadora iniciou estudos científicos a fim de desenvolver uma opção de testagem considerada padrão-ouro, que priorizasse a utilização de reagentes nacionais e possibilitasse a simplificação dos métodos de coleta, análise e custos. Segundo Márcia, a inovação ficou por conta do desenvolvimento de um kit para a detecção do vírus por RT-PCR a partir da saliva, cuja técnica permite a autocoleta simplificada, inclusive em crianças e demais indivíduos sensíveis, além de oferecer vantagens como a possibilidade de aplicação em larga escala e produção mais econômica do que os métodos até então disponíveis. “Já usamos esse kit para fazer testagem na Amazônia e estamos experimentando esse método para detectar outras doenças, como Doença de Chagas e leishmaniose, tudo pela saliva”.
O líquido é descartado e a amostra vai para secagem a 60°C. 30 microlitros de TRI-SHCL são acrescidos para dissolver o pellet antes de seguir para a reação de transcrição reversa e PCR. |
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Placas com 94 amostras a serem avaliadas e os controles positivo e negativo, de acordo com os parâmetrosdo kit de RT-PCR utilizado, são colocados no equipamento de PCR em tempo real. |
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O equipamento quantifica os resultados e apresenta os dados em gráficos comparativos. As informações de todas as testagens colhidas são armazenadas e as amostras descartadas apropriadamente. |
Todos que testam positivo são notificados e recebem orientações da equipe psicossocial da ProAP. Devido à alta sensibilidade da análise,os positivos com baixa carga viral são convidados a refazerem o teste. |
Fotos: (1), (5), (6.1), (7) e (8) Monique Scantamburlo (2), (3), (4) e (6) Verônica Friolani e Vitoria Damasceno
DNA: ácido desoxirribonucleico, molécula que armazena informações genéticas e coordena o desenvolvimento e funcionamento dos seres;
Pellet: precipitado contendo ácidos nucléicos após centrifugação;
TRIS-HCL: solução tampão contendo TRIS a 10 mM e pH 7.8.
Esta matéria é parte da Edição número 01, da Revista Comunicare UFABC.
Assessoria de Comunicação e Imprensa - ACI UFABC
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