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Página inicial > Comunicare > Revista Comunicare UFABC > Edição nº 2 - 2023 > Aves nos campi mostram adaptação a ambientes modificados pela ação humana
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Aves nos campi mostram adaptação a ambientes modificados pela ação humana

passaros

Os campi da UFABC tornaram-se lar para diversas espécies de aves que vão para além dos quero-queros. Há 60 anos, a aproximação desses seres alados surgia nos cinemas em uma perspectiva bem diferente de um fenômeno pitoresco: em filme de Alfred Hitchcock (Os Pássaros), foram protagonistas de um apocalipse natural.Os campi da UFABC tornaram-se lar para diversas espécies de aves que vão para além dos quero-queros. Há 60 anos, a aproximação desses seres alados surgia nos cinemas em uma perspectiva bem diferente de um fenômeno pitoresco: em filme de Alfred Hitchcock (Os Pássaros), foram protagonistas de um apocalipse natural.

Mesmo em ambientes urbanos, o avistamento de pássaros ocorre com frequência, mas a identificação de cada espécie exige olhos e ouvidos treinados. Na UFABC, entre Santo André e São Bernardo do Campo (SBC), observadores atentos podem admirar mais de 20 variedades deles sem preocupação de se estar à beira do fim do mundo.

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Coruja-buraqueira

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Bentevizinho-de-penacho-vermelho

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Bem-te-vi

 

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João-teneném

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Sanhaço-cinzento

O biólogo Miguel Magro professor da Escola Sesi São Caetano do Sul e guia para observação de aves percorreu os campi da UFABC no final do primeiro semestre. Carregando câmera fotográfica e uma caixa de som portátil, ele identificou e registrou o comportamento de aves que voam pela Universidade. Algumas menos tímidas se apresentam como modelos e cantoras, enquanto as mais reservadas exigem atrativos (comida, por exemplo) ou só respondem às ameaças potenciais.

Nas áreas verdes da Universidade, a aproximação ocorre pela reprodução do canto de espécies variadas, atraindo a atenção dos bichos voadores das redondezas. “A intenção é ativar o senso de proteção e ver a articulação em rede da comunidade”, explica o especialista. Em São Bernardo, o joão-de-barro foi o primeiro a chegar, atraindo, por seu piado característico, um bem-te-vi. Um a um, os pássaros vão pousando para averiguar a situação. Quando não é detectada ameaça e o estímulo perturbador cessa, se dispersam novamente.

Por meio dessa técnica de observação, conhecida pelo nome inglês birdwatching, Magro observa, identifica e cataloga a vida e hábitos das mais variadas espécies na região do ABC. Ele ressalva que, embora eficaz, essa estratégia de atrair os animais por áudio (playback) deve ser usada com moderação, pois provoca estresse que, em casos extremos, pode até levar espécimes ao óbito – outra fonte para reconhecimento são os vestígios (excrementos) deixados pela área.

As fotos e áudios coletados pelo biólogo nas expedições ficam registradas na WikiAves (wikiaves.com.br), um portal interativo que reúne imagens, sons, textos e mapas de ocorrência das aves brasileiras. O conteúdo, construído como iniciativa pública e coletiva, passa por classificação e avaliação antes de integrar um banco de dados que serve como referência para estudos — ação que o observador classifica como “base da ciência cidadã”.

pg15 miguel magroAves registradas em atividade de observação

Rolinha-roxa, pombo-doméstico (feral), avoante, urubu-preto, carcará, gibão-de-couro, pomba-asa-branca, bem-te-vi, sabiá-do-campo, sabiá-laranjeira, corruíra, cambacica, sanhaço-cinzento, sanhaço-do-coqueiro, periquito-rico, andorinha-pequena-de-casa, gavião-carijó, gavião-asa-de-telha, coruja-buraqueira, joão-de-barro, joão-teneném, risadinha, neinei, bentevizinho-de-penacho-vermelho, pitiguari, sabiá-barranco, figuinha-de-rabo-castanho, pardal e quero-quero.



Miguel Magro começou a observar pássaros como um hobby de infância. Mais tarde, a atividade se tornou tema de TCC e atividade profissional como guia. As fotos do biólogo que acompanham a matéria mostram alguns exemplares que são vistos nos campi da UFABC.


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Urubu-preto

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Sabiá-laranjeira

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Sabiá-do-campo



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Figuinha-de-rabo-castanho

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João-de-barro

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Avoante

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Risadinha

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Neinei

Ilhas verdes

Nos campi da UFABC, as observações de Magro detectaram cerca de 30 espécies de aves, com São Bernardo apresentando variedade 50% maior do que em Santo André no dia da observação. Para o professor da UFABC André Eterovic, que atua em estudos de evolução e diversidade dos seres vivos, a maior diversidade em determinado local se justifica pela proximidade com áreas arborizadas, no caso dos campi, ele cita o Parque Raphael Lazzur na Av. Kennedy. Ele acrescenta que características como o tamanho do campus, a fração de área verde e de espelhos d’água, trechos arborizados, tráfego humano e condições dos entornos também influem na variedade registrada.

Desde 2012, em parceria que começou com as professoras Gisele Ducati e Simone Rodrigues de Freitas, o professor Eterovic e discentes da Universidade realizam saída de campo para observação de aves como atividade da disciplina Práticas em Ecologia. O objetivo é mensurar a riqueza de espécies em setores distintos do Parque Central de Santo André para correlacioná-la com possíveis fatores causais. “A missão proposta à equipe é obter o registro fotográfico de cerca de 30 espécies distintas, que podem ser agrupadas quanto à distância de corpos d’água em que são detectadas”.

Eterovic explica que algumas espécies podem manter populações reprodutivas em parques urbanos, considerados como “ilhas” em meio a uma matriz de ambiente antrópico (área natural modificada por atividade humana) mais inóspito. Segundo ele, “essas regiões também podem funcionar como refúgios pontuais no deslocamento ‘aos saltos’ entre áreas de habitat mais favorável”. O pesquisador esclarece que parques urbanos podem agir como reservatórios da biodiversidade local, além de atuar no balanço térmico ambiental, na saúde dos animais e das comunidades humanas das cercanias.

Na UFABC, o acompanhamento da estada das aves integra a rotina dos responsáveis pela jardinagem na Divisão de Serviços da Prefeitura Universitária. Líderes de equipe, Rodolfo Alves de Souza e Rogério Santos Rosa, repassam a orientação: “interferir o menos possível no ambiente delas”. Há recomendação especial para cuidado com os ninhos em defesa da conservação das espécies, mantendo condições para reprodução e preservação dessa fauna nos campi.

Comportamento

Personagem de Os Pássaros (1963), a ornitóloga Srª Bundy (atriz Ethel Griffies) representou o papel da especialista sobre aves. Na trama, ela conta a populares em uma lanchonete que existiriam no mundo “8.650 espécies” e “provavelmente 100 bilhões de espécimes”. Atualmente, Eterovic esclarece que a depender da fonte, o número de espécies descritas (conhecidas pela ciência) oscila ao redor de 10 mil e, se consideradas aquelas ainda não catalogadas, estima-se entre 11 e 12 mil com ao menos 50 bilhões de indivíduos no total.

Na iminência de um ataque, e curiosamente na condição de negacionista na história, a ornitóloga do filme argumenta que aves não são agressivas, que espécies diferentes nunca voam juntas e que não têm inteligência para preparar uma ação em bando. Segundo Eterovic, “as aves tendem a ser agressivas com invasores de território e competidores por comida e parceiros sexuais”. A defesa do ninho, ovos e filhotes também pode provocar ataques, tal como no enfrentamento de predadores potenciais.

Quanto a ações conjuntas, o docente afirma que há grupos mistos formados por indivíduos de espécies distintas que patrulham uma área comum em busca de recursos. “Essa união situacional também pode ocorrer no enfrentamento de um predador, o que no estudo do comportamento de animais tem o nome técnico de mobbing” — explica. Eterovic esclarece que, de modo similar ao ambiente dito natural, o antrópico oferece condições e recursos que atuam em conjunto como variáveis seletivas sobre os organismos, sendo a interação desses fatores com a informação genética das espécies o que vai resultar em um determinado comportamento.



filme
Com informações do livro Hitchcock Truffaut - Entrevistas (1986) e do documentário Eu Sou Hitchcock de Joel Ashton MacCarthy (2021).


Aves revoltas na tela e obsessão nos bastidores


Alfred Hitchcock estreou Os Pássaros em 1963 como resultado da ideia provocadora de criar uma fantasia apocalíptica, que teria como fundamento um evento natural. Ele queria explorar o ceticismo sobre a possibilidade de uma força da natureza destruir a humanidade. Naquele momento histórico, seria mais plausível acreditar no fim do mundo em uma guerra atômica.

O filme termina com um desfecho enigmático em momento marcante do uso de uma característica própria da obra: ausência de trilha musical – as marcações dramáticas de áudio foram orquestradas com sons de pássaros, do ambiente e da natureza. O diretor contou ter empregado na última cena “murmúrios” naturais para criar uma atmosfera em que as aves parecessem dizer que não fariam nada, por ora, mas que estavam lá e que, em algum momento, estariam preparadas para um ataque final.

Hitchcock se tornou um dos cineastas mais influentes da história e carrega dentre suas peculiaridades um estilo possessivo no relacionamento com os artistas que dirigia – em especial quando se tratava das atrizes protagonistas. A imposição de martírios parece não ter ficado restrita à ficção das personagens femininas típicas de suas obras mais notórias.

Com Tippi Hedren no papel de Melanie Daniels em Os Pássaros não foi diferente. Ao chegar para o começo das gravações das cenas da invasão no sótão, a atriz soube que o uso de simulacros mecânicos – como previsto inicialmente – havia sido descartado e que seriam usadas aves de verdade por orientação do diretor. Segundo o roteirista do filme, Evan Hunter, as gravações ocorreram com os contra-regras atirando pássaros reais sobre Tippi que sofreu vários ferimentos durante os dias de filmagem dessa famosa sequência.

Posteriormente, a forma abusiva como Hitchcock se relacionou com a atriz americana se tornou relato corriqueiro no círculo hollywoodiano e muitos profissionais do setor começaram a recusar trabalhos com o “mestre do suspense”. Essa ocorrência parece marcar o declínio de sua carreira a partir do final dos anos de 1960. Depois de Os Pássaros, ele dirigiu mais cinco filmes (ao todo foram 53). Alfred Hitchcock morreu em 1980.

 

Assessoria de Comunicação e Imprensa - Universidade Federal do ABC (ACI UFABC)

Registrado em: Edição nº 2 - 2023
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