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A História das Ciências nos Instrumentos de Navegação Marítima


Foto: http://www.morguefile.com

Não é fácil sair de um lugar e ter que chegar em outro quando não se sabe o caminho. Atualmente, podemos usar o GPS e os aplicativos de celular para nos ajudar, mas imagine esta situação há cerca de 500 anos! Difícil, não? Você certamente já sabe que os portugueses chegaram ao Brasil no ano de 1500, mas como será que eles chegaram até aqui?

Na verdade, não importa agora como eles chegaram até aqui, se foi ao acaso ou não, o que importa é o que utilizaram para chegar, como conseguiram se localizar em alto mar e que instrumentos possibilitaram conhecer a posição em que se encontravam até aportarem em terras brasileiras.

Mas será que os instrumentos de navegação podem nos contar tantas coisas assim? Para os historiadores da Ciência, eles podem sim, pois fazem parte da “cultura material da ciência” que, segundo GRANATO (2007:3), “seria o estudo não do objeto em si, mas das diferentes técnicas e tecnologias contidas naquele objeto, por quem e para quem este objeto foi construído, com que finalidade e se seu uso correspondeu ao objetivo para que foi originalmente construído”.

A introdução de tal estudo vai ao encontro dos Parâmetros Curriculares Nacionais que sugerem que a História das Ciências seja introduzida já nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a partir da História dos Ambientes ou das Invenções, apresentando a ciência numa perspectiva histórica, social e cultural.

A partir da temática das Grandes Navegações, perguntou-se a alunos do 3º ano do Ensino Fundamental I, como os portugueses haviam chegado às terras brasileiras? Para responder a questão foi preciso pensar o que eles precisavam saber. O passo seguinte, dentro de uma proposta didática planejada, foi pesquisar os instrumentos de navegação do período e escolher um, dentre vários, para construir e explorar em uma atividade prática.

O instrumento escolhido para construção foi o quadrante. Um quadrante é um instrumento de madeira ou latão, que permitia medir alturas inacessíveis. Este instrumento foi muito utilizado pelos navegadores portugueses, principalmente para medir a altura dos astros ou de objetos, e através de cálculos, “ajudar na localização em alto mar”. É um instrumento de medida simples e “consiste num quarto de círculo com duas pínulas de pontaria (espécie de mira) perfuradas num dos seus lados retos, um fio de prumo fixo ao centro do arco e uma escala de graduação inscrita na borda do quarto de círculo” . Depois da construção, os alunos exploraram o instrumento e calcularam com ele a altura do prédio da escola. A exploração do instrumento como ferramenta didática permite ao aluno visualizar as relações entre a Astronomia, a Matemática e a História, numa perspectiva interdisciplinar, a partir das intervenções realizadas pelo professor. Segundo FERNANDES et al (2011:78), estimulando o aluno “a realizar tanto a construção, quanto o uso do instrumento em estudo”, ofereceremos“oportunidades aos próprios estudantes de construírem suas trajetórias de aprendizagem”.


Foto: http://mrg.bz/NoUWmo

Ao resgatarmos a história dos instrumentos de navegação, sobretudo o quadrante, não estamos apresentando “uma história de uma coleção de instrumentos mortos e descartados” (GALISON, 1988 apud LACERDA, s.d.: 2), mas estimulando uma análise do que seria a ciência para aqueles que construíram os instrumentos naquele determinado período histórico, por quais motivos e de quais conhecimentos fizeram uso.

Apresentou-se apenas um recorte do que pode ser explorado em sala de aula a partir da história dos instrumentos. A proposta didática da qual este recorte faz parte encontra-se descrita na dissertação de mestrado intitulada: “A construção de uma proposta didático-metodológica a partir da história dos instrumentos de navegação marítima portugueses”, desenvolvida no programa de Mestrado em Ensino, História e Filosofia das Ciências e Matemática da UFABC, pela autora deste texto. 


[1] Cosimo de Bartoli(1503 – 1572)  no livro “Del modo di misurare”, dedica-se aos modos de medir utilizando o instrumento mais adequado. SAITO& DIAS (2011), no artigo “História e Ensino de Matemática: construção e uso de instrumentos de medida do século XVI”, propõem “três atividades baseadas em excertos” da obra, utilizando o quadrante e o báculo.

[2]  Fonte consultada: http://www.museutec.org.br/previewmuseologico/o_quadrante.htm

Referências

  • BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
  • FERNANDES, Telma C. D.; LONGUINI, Marcos Daniel; MARQUES, Deividi Márcio. A construção de um antigo instrumento de navegação marítima e o seu emprego em aulas de Astronomia e Matemática. História da Ciência e Ensino, vol. 4, p. 62-79, 2011.
  • GRANATO, Marcus. et al. Objetos de ciência e tecnologia como fontes documentais para a história das ciências: resultados parciais. VIII ENANCIB, Salvador, Bahia, outubro de 2007.
  • LACERDA, Janaína. Instrumentos científicos como fonte para a história da ciência: uma história possível. S.d. Disponível em: http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao13/materia01/texto01.pdf. Acesso em outubro de 2012.
Suseli de Paula Vissicaro

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Suseli de Paula Vissicaro

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