História das Ciências e contribuição à cidadania no Ensino Fundamental I
Já há certo tempo, alguns autores defendem a importância da inclusão da História das Ciências no ensino de Ciências Naturais. Nas séries iniciais da Educação Básica, quando essa temática é incluída, ainda se dá de forma tímida, pelo menos em alguns materiais didáticos, sendo pautada por uma historiografia que valoriza fatos curiosos, ilusórios e simplistas quanto aos conceitos científicos. Vale lembrar que a inclusão da História das Ciências ao ensino foi proposta pelos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN’s, no sentido de promover a construção da cidadania, levando o aluno à reflexão sobre a ciência e sua construção histórica.
Nossa pesquisa de mestrado, intitulada: “História das Ciências - contribuição à cidadania no Ensino Fundamental I: propostas didáticas”, buscou fomentar a discussão sobre a inclusão da História das Ciências ao Ensino de Ciências, por meio de propostas didáticas metodológicas, desenvolvidas para o ensino fundamental I, a fim de despertar no aluno sua cidadania, por meio de um ensino crítico, evidenciando as inter-relações entre explicação científica, tecnológica e tomadas de decisões diante das questões do dia-a-dia.
Até hoje as recomendações dos PCN’s ainda estão longe das salas de aula em todo o Brasil. Por isso, trazemos como proposta para o trabalho com História das Ciências no ensino fundamental I estratégias didáticas metodológicas, utilizando recursos do próprio universo infantil, como: filmes, histórias em quadrinhos, fotografias e textos, com objetivo de promover a leitura de imagens, a realização de pesquisas e debates e a sistematização dos conhecimentos adquiridos, levando o aluno à reflexão sobre a concepção de ciência; a construção dos conhecimentos científicos e a visão de cientista divulgada nas mídias. Estas atividades fomentariam uma aprendizagem significativa, respeitando a faixa etária da criança e sua aprendizagem e argumentação.
A criança traz à escola seu conhecimento prévio sobre a natureza, geralmente, elaborado a partir do contato com a divulgação científica das mídias presentes no universo infantil. A ciência não é uma atividade neutra, mas passível de mudanças. Sua produção está ligada a questões sociais, econômicas e culturais. Por se tratar de uma atividade humana, tais ponderações são capazes de aproximar os alunos da prática científica, desmistificando, assim, a visão tradicional vinculada às produções científicas.
Neste sentido, propomos algumas atividades que valorizam a discussão, em sala de aula do Ensino Fundamental I, sobre o que seria a ciência e/ou quem seriam os cientistas? Acreditamos que as Histórias em Quadrinhos (HQs) de ficção científica abrem um amplo leque de possibilidades para o ensino de física, tecnologia, química, além do seu potencial reflexivo sobre a imagem de cientista difundida para as crianças e público em geral. O objetivo, portanto, seria desconstruir a possível visão que cientistas são ou foram sábios geniais isolados da sociedade, cultura e da comunidade científica à qual pertenceram ou pertencem. A discussão fomentada pelo trabalho com HQs poderia ser acrescida de reflexões da História das Ciências. É importante a inclusão da História das Ciências ao ensino no que diz respeito a promover a percepção do cientista como um ser humano, com qualidades, defeitos e sentimentos. E, ainda, por demonstrar através de análises históricas “que a ciência se modifica com o passar do tempo, feita por pessoas falíveis, cujas propostas podem não ser definitivas.” (TERNES; SCHEID e GULLICH, 2009, p.5).
Percebemos que a imagem do cientista, de certo modo, é construída de forma caricata e distante da realidade. Outra atividade proposta neste estudo refere-se ao uso de fotografias/imagens, porque acreditamos que estas propiciam reflexões acerca da imagem usual sobre “os cientistas”, numa tentativa de fomentar discussões e rupturas em relação a esta imagem tradicional.
Acreditamos que as reflexões provenientes destas atividades nos permitem valorizar as relações multi e interdisciplinares da Ciência, resultando num “alicerce” onde as novas informações encontram as que o aluno já conhece, motivando-o e atraindo-o, promovendo, assim, um maior entendimento de como a ciência é sujeita a transformações, motivada por diferentes contextos, desenvolvendo o conhecimento da criança sobre como o pensamento científico vivenciou diferentes processos através do tempo. E, estas reflexões, propiciam um campo fértil para a educação cidadã que necessitamos, buscando despertar no aluno sua criticidade, sendo a escola e o professor os principais mediadores da construção da consciência crítica que se almeja. Superando, assim, um ensino descontextualizado e baseado no acúmulo de informações, conferindo significado ao conhecimento escolar, incentivando o raciocínio e a capacidade de aprender a aprender.
Para saber mais,
- KRASILCHIK, Myriam. Ensino de Ciências e a formação do cidadão. Em aberto, Brasília, ano 7, n. 40, out./dez. 1988.
- KOSMINSKY, Luis; GIORDAN, Marcelo. Visões de Ciência e sobre o cientista. Química Nova na Escola n° 15, maio 2002
- SANTOS, M.E.V.M. Cidadania, conhecimento, ciência e educação CTS. Rumo a “novas’ dimensões epistemológicas. Revista CTS, no.6, vol.2, p. 137-157, 2005.
- SILVA, Michele Alves. História das Ciências - contribuição à cidadania no Ensino Fundamental I: propostas didáticas. Mestrado. UFABC. Santo André, 2014.
- TRINDADE, D.F. A interface ciência e educação e o papel da história da ciência para a compreensão do significado dos saberes escolares. Revista Iberoamericana de Educación, no.47, p.01-07, 2008.
Perfil
Michele Alves da Silva
Mestre PEHFCM / UFABC.
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