Pesquisa de doutorado estuda a caracterização epidemiológica e molecular dos vírus da dengue circulantes em Marília/SP, durante epidemia ocorrida em 2007
UFABCiência: Qual o tema da sua pesquisa?
Andréia: Caracterização epidemiológica e molecular dos vírus da dengue circulantes no município de Marília/SP, durante uma epidemia ocorrida no ano de 2007.
UFABCiência: Por que escolheu estudar esse tema?
Andréia: A dengue é uma doença com características epidemiológicas regionais específicas. Portanto, o conhecimento da caracterização das variantes genéticas dos vírus causadores da doença e sua relação com o perfil hematológico da população acometida pode trazer um benefício adicional na implementação das atividades de manejo das epidemias.
UFABCiência: Como realizou?
Andréia: Durante a epidemia de dengue ocorrida no município de Marília/SP, no ano de 2007, foram colhidas amostras de sangue total de indivíduos com suspeita clínica e epidemiológica de dengue para acompanhamento hematológico (contagem de leucócitos e plaquetas, bem como porcentagem de linfócitos atípicos). O plasma foi obtido de tais amostras e mantido a 70°C, até a realização de testes adicionais. Entre os anos de 2013 e 2016, foi pesquisada no plasma a presença do antígeno NS1 viral, por meio de ensaio imunoenzimático. Os dados hematológicos e demográficos (idade, gênero e dia de atendimento) foram analisados, estatisticamente, como preditores para o diagnóstico sorológico positivo para o vírus da dengue. Para os casos positivos foi realizada a detecção viral por PCR e sorotipagem viral por Nested-PCR, utilizando como alvo o gene que codifica a junção das proteínas estruturais do capsídeo e pré-membrana (C/prM), de acordo com a metodologia proposta por Lanciotti et al (1992). Os amplicons positivos foram sequenciados pelo método de Sanger e a especificidade dos sorotipos foi analisada comparativamente com aquelas depositadas no banco de dados (GenBank) do NCBI (http://ncbi.nlm.nih.gov), por meio do programa algoritmo BLAST (Basic Local Alignment Search Tool). Adicionalmente, foi realizada a reconstrução filogenética de máxima parcimônia, para inferência da origem geográfica dos sorotipos circulantes durante a referida epidemia.
UFABCiência: Quais foram os resultados alcançados?
Andréia: O estudo comparativo das características hematológicas e demográficas dos pacientes com a presença de antígeno NS1 de vírus da dengue nas amostras revelou a seguinte associação: aumento de linfócitos atípicos, tanto para os casos positivos quanto para os negativos, além de significante redução na contagem de leucócitos e plaquetas para os casos positivos (medianas: 3.715 leucócitos/mL e 134.896 plaquetas/mL). Para os casos negativos, as medianas foram: 6.760 leucócitos/mL e 223.872 plaquetas/mL. Esse padrão hematológico foi conservado durante o todo o período estudado (7 de março a 4 de junho de 2007), demonstrando que, uma vez determinado nas primeiras fases de uma epidemia de dengue, esse possa ser usado para implementar medidas de diagnóstico de novos casos, bem como no controle e tratamento dos doentes em todo o restante do período. A detecção e identificação do sorotipo viral revelou a co-circulação do sorotipo 1 (33% das amostras) e do sorotipo 3 (67% das amostras). A reconstrução filogenética indicou que a população de vírus do sorotipo 1 provavelmente originou-se da Região Norte do Brasil, por apresentar pouca variabilidade genética e alta similaridade com amostras de indivíduos de Belém do Pará, isoladas no mesmo ano. A população de vírus do sorotipo 3 apresentou maior variabilidade genética, provavelmente devida à microevolução na própria região, visto que as amostras de Marília/SP apresentaram alta similaridade com amostras de vírus isoladas de indivíduos da Venezuela, no ano de 2001. Os dois sorotipos mostraram padrões hematológicos distintos: com o aumento de linfócitos atípicos, houve uma significante maior leucopenia na população de sorotipo 3 e uma tendência a maior diminuição de plaquetas em amostras com o sorotipo 1.
UFABCiência: Quais as dificuldades encontradas?
Andréia: Os dados epidemiológicos exibidos nas páginas oficiais da Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo muitas vezes são de acesso restrito, impossibilitando a obtenção de informações completas sobre, por exemplo, quais sorotipos virais estão circulando em determinadas regiões.
UFABCiência: Deixe uma frase que sintetize a importância da contribuição da sua dissertação para o universo científico e o cotidiano das pessoas.
Andréia: Os padrões hematológicos dos pacientes com diagnóstico clínico de dengue mostraram-se, estatisticamente, bons preditores para o diagnóstico sorológico positivo para o vírus da dengue. A ocorrência de modificações em tais padrões, ao longo de uma epidemia, pode determinar a circulação de outras doenças sazonais com sintomas semelhantes ao vírus da dengue.
Perfil
Andréia Moreira dos Santos Carmo
Doutora em Biossistemas (UFABC), Mestre em Ciências (Secretaria de Estado da Saúde), Bacharel em Ciências Biológicas (Fundação Santo André), Pesquisadora científica do Instituto Adolfo Lutz, com atuação no Núcleo de Ciências Biomédicas do Centro de Laboratório Regional Santo André VIII.
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