Liberdade interditada: o traçado político da Linha Azul do Metrô de São Paulo
Oliver Cauã Cauê França Scarcelli, egresso do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão do Território da UFABC, analisou, durante o Mestrado, o processo de definição do traçado da Linha 1 - Azul do Metrô de São Paulo.
Através de entrevistas, leitura e análise de jornais, revistas especializadas e documentos técnicos, Oliver procurou verificar o grau de atendimento que a construção da primeira linha de metrô de São Paulo teve sobre as demandas econômicas, urbanas e de mobilidade da população. Concluiu-se que, apesar dos benefícios à indústria nacional e o descongestionamento do centro urbano, as retiradas de ônibus das ruas, somadas a um amplo programa de abertura de avenidas, atenderam aos interesses de uma outra indústria (a automobilística) e das classes médias (proprietárias de automóveis). As camadas de renda mais altas foram as mais beneficiadas com a implantação da Linha 1 - Azul, já que toda a rede proposta em 1968 restringia-se às áreas densamente habitadas da capital. Os habitantes das periferias, afirmavam os planejadores, deveriam continuar utilizando ônibus e trens. A escolha de traçados de metrô é política, resultado da conjuntura de classes da época.
Mestre em Planejamento e Gestão do Território pela Universidade Federal do ABC (UFABC), Oliver é formado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), onde também cursa o Doutorado e investiga as origens da segregação espacial de raça, classe e gênero em São Paulo. Atualmente, é diretor da Cidadeapé - Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo - e especialista do fórum de mobilidade Mova-se.
...
Dados | Egresso
Nome completo
Oliver Cauã Cauê França Scarcelli.
Formação acadêmica (cursos e instituições)
∙ Doutorando em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP);
∙ Mestre em Planejamento e Gestão do Território pela Universidade Federal do ABC (UFABC);
∙ Geógrafo pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Profissão / experiência profissional
É professor eventual da Unesp de Rio Claro. Também é diretor da Cidadeapé - Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo - e especialista do fórum de mobilidade Mova-se. Eventualmente, comenta mobilidade urbana nas emissoras Globo e Band. No doutorado, investiga as origens da segregação espacial de raça, classe e gênero em São Paulo. No mestrado, analisou o processo de definição do traçado da Linha 1 - Azul do Metrô de São Paulo.
Programa de pós-graduação e curso (mestrado ou doutorado) concluído na UFABC
Mestrado em Planejamento e Gestão do Território (PGT).
Como sua trajetória neste curso de pós-graduação na UFABC contribuiu para sua formação?
Eu vim da geografia. Essa ciência, contudo, não fornece instrumentos para compreendermos as estruturas internas às cidades. O PGT me deu o arsenal teórico e prático para isso. Posso, agora, tentar inserir esse arcabouço na geografia.
...
Dados | Dissertação
Título
Liberdade interditada: o processo decisório do traçado da Linha 1 - Azul do Metrô de São Paulo
Data da defesa
01 de fevereiro de 2020
Nome do(a) orientador(a)
Profa. Dra. Silvana Maria Zioni
Linha de pesquisa
Transporte e Tráfego Urbano e Regional.
...
Questões | Pesquisa
Qual o tema da sua pesquisa e por que o escolheu?
O tema da pesquisa é como a luta de classes produziu o traçado da Linha Azul do Metrô de São Paulo. Primeiramente, a linha de metrô do Brasil atendeu aos mais ricos da metrópole (a Norte a Sul), ao invés dos operários das zonas Leste e Oeste. Como morador da zona Oeste, senti-me no dever de resgatar os porquês dessa decisão.
Quais eram seus objetivos (gerais e específicos)?
Objetivo geral: Analisar o processo de definição dos traçados das Linhas 1 Azul e 3 Vermelha do Metrô de São Paulo, interpretando as influências dos agentes sociais.
Como objetivos específicos:
∙ Interpretar as influências de agentes públicos das esferas municipal, estadual e federal sobre o traçado do Metrô;
∙ Interpretar as influências de agentes privados (capitais da construção civil, do setor imobiliário, automotivo e financeiro) sobre o traçado do Metrô;
∙ Interpretar as influências de manifestações da sociedade civil (quebra-quebras, passeatas, abaixo-assinados, etc.) sobre o traçado do Metrô;
∙ Verificar as justificativas para os traçados e categorizá-las com relação ao atendimento à demandas econômicas, urbanas, de mobilidade urbana, etc.
Como foi sua realização (materiais e métodos, metodologia, corpus etc.)?
A metodologia proposta abrange quatro linhas:
I) Revisão bibliográfica sobre planejamento urbano;
II) Análise de relatórios de gestão, planos, projetos e programas da Companhia do Metropolitano e das instâncias públicas que condicionaram o processo decisório do traçado do Metrô;
III) Análise de notícias veiculadas na imprensa local e em outros meios da imprensa especializada, onde eventuais conflitos, polêmicas, debates e protestos sobre a escolha de traçados das linhas do Metrô tiveram repercussão;
IV) Realização e análise de entrevistas com técnicos e dirigentes da Companhia do Metropolitano e outras entidades envolvidas no processo decisório dos traçados.
Quais foram os desafios enfrentados?
O maior desafio foi entrevistar o ex-ministro Delfim Netto.
Quais foram os principais resultados alcançados?
Levantei que, além das razões técnicas, houve razões políticas (ou de classe) para a escolha da Linha Azul (em lugar da Linha Vermelha).
Descreva, resumidamente, a importância acadêmica e social de sua pesquisa, isto é, sua contribuição para o universo científico e o cotidiano das pessoas.
A escolha de traçados de metrô é política. É resultado da conjuntura de classes do período. Está longe de ser algo pensado por tecnocratas neutros. A Linha Azul foi feita para a classe média, para retirar ônibus das ruas, desafogando as avenidas e dando mais espaço para a circulação de carros. É um projeto "carrocrata", ao contrário do que pode parecer.
Redes Sociais