O papel do Brasil na pacificação e reconstrução do Estado haitiano
Tadeu Morato Maciel, egresso do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais da UFABC, pesquisou, durante o doutorado, acerca do papel do Brasil na Missão das Nações Unidas para estabilização do Haiti (MINUSTAH).
Seu principal objetivo era analisar a participação brasileira na referida missão de paz, e demonstrar como a MINUSTAH é conformada por novas práticas de gestão de “ameaças” transterritoriais, que turvam as fronteiras entre espaços e políticas de segurança nacional e internacional. Segundo o pesquisador, o foco de sua análise esteve nas particularidades da atuação do Brasil, sobretudo no que tange à sua visão sobre o nexo entre segurança e desenvolvimento.
De acordo com o egresso, sua pesquisa pode contribuir para uma percepção menos maniqueísta da realidade de países como o Haiti, e ofertar à sociedade um conhecimento mais complexo e acolhedor relativo à população haitiana. Além disso, seu estudo abordou processos de pacificação implantados também no Brasil (no Rio de Janeiro, por exemplo), e refletiu a respeito da participação das forças armadas no processo de estruturação da sociedade brasileira.
Além de doutor em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC, Tadeu é mestre em Ciências Sociais e graduado em Relações Internacionais. Atualmente, é professor colaborador e pós-doutorando no Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos da Defesa e Segurança da Universidade Federal Fluminense.
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Dados | Egresso
Nome completo
Tadeu Morato Maciel
Formação acadêmica (cursos e instituições)
∙ Doutorado em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC, com período sanduíche na Universidad Nacional de Quilmes (Argentina) | 2018;
∙ Mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo | 2011;
∙ Graduação em Relações Internacionais pela Faculdade Santa Marcelina | 2008.
Profissão / experiência profissional
∙ Professor colaborador e pós-doutorando no Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos da Defesa e Segurança da Universidade Federal Fluminense;
∙ Professor colaborador na graduação em Relações Internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política Externa Brasileira da UFF (desde 2018);
∙ Vice-coordenador do grupo de pesquisa Organizações Internacionais e Temas Globais, do CNPq;
∙ Coordenador do laboratório de pesquisa Nexus: segurança e desenvolvimento na política global (vinculado ao SEDEAMÉRICAS e ao NEA);
∙ Professor (2011-2015) e coordenador (2013) do curso de graduação em Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina;
∙ Técnico e assistente executivo na área de backoffice de mercado financeiro da Caixa Econômica Federal (2007 - 2017).
Programa de pós-graduação e curso (mestrado ou doutorado) concluído na UFABC
Doutorado em Ciências Humanas e Sociais.
Como sua trajetória neste curso de pós-graduação na UFABC contribuiu para sua formação?
Cursar o doutorado em Ciências Humanas e Sociais na UFABC foi extremamente importante na minha trajetória profissional. Eu entrei em contato com uma formação interdisciplinar de extrema qualidade e pude vivenciar, pela primeira vez, a experiência de estar em uma universidade pública. O contato com os docentes, discentes e funcionários técnicos rendeu aprendizados muito importantes para a minha opção por seguir na carreira acadêmica e fazer o pós-doutorado em outra universidade pública (a Universidade Federal Fluminense).
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Dados | Tese
Título
O papel do Brasil na "pacificação" e reconstrução do Estado haitiano através da MINUSTAH: a turva fronteira entre espaços de segurança nacionais e internacionais
Data da defesa
5 de maio de 2018
Nome do orientador
Prof. Dr. Gilberto Marcos Antonio Rodrigues
Linha de pesquisa
Estado, Políticas Públicas e Sociedade Civil
Link para a tese
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Questões | Pesquisa
Qual o tema da sua pesquisa e por que o escolheu?
O tema central da pesquisa foi compreender a atuação brasileira na Missão de Paz no Haiti (MINUSTAH). Eu escolhi essa temática porque me interessava, desde a graduação, tanto pelo Haiti quanto pela cooperação Sul-Sul ofertada pelo Brasil, e desejava aprofundar o entendimento dessas questões no doutorado.
Quais eram seus objetivos (gerais e específicos)?
O objetivo da tese foi demonstrar como a MINUSTAH é conformada por novas práticas de gestão de “ameaças” transterritoriais, que borram as fronteiras entre os espaços e políticas de segurança nacional e internacional, com destaque para a percepção do nexo segurança-desenvolvimento e para as práticas de pacificação em ambientes urbanos implementadas pelo Brasil.
Como foi sua realização (materiais e métodos, metodologia, corpus etc.)?
O procedimento metodológico empregado nos primeiros capítulos privilegiou algumas fontes primárias, que reproduzem os discursos oficiais dos principais atores analisados nesta pesquisa. Destacam-se: a utilização de todos os informes do Secretário Geral da ONU ao Conselho de Segurança (entre 2004 e 2017); os discursos da diplomacia brasileira, especificamente quando Celso Amorim era Ministro das Relações Exteriores; assim como algumas cartas dos jesuítas e do Marechal Rondon, que mencionavam as iniciativas de pacificação no Brasil – disponíveis nos arquivos do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). Tal material foi essencial para identificar algumas procedências e intencionalidades relacionadas ao estabelecimento da MINUSTAH. Também foi realizado um estudo bibliográfico mais pormenorizado, que possibilitou a apropriação de autores que auxiliaram no processo de identificação de diversos agentes, práticas e enunciados presentes no Haiti durante a realização da referida missão. Devido à impossibilidade de assumir a bolsa CAPES (diante da necessidade financeira de manter vínculo empregatício distinto da minha trajetória acadêmica) e às restrições do Ministério da Defesa e das Forças Armadas para o envio de pesquisadores ao Haiti, no período em que realizei minha investigação, entre outros motivos, não pude aplicar a ansiada pesquisa de campo no Haiti. De qualquer forma, ressalto que as conversações presenciais no Brasil, ou por meio de mensagens eletrônicas (com aqueles que estavam no exterior), realizadas especialmente com militares brasileiros e refugiados haitianos, foram muito importantes para a escolha da perspectiva analítica adotada nesta tese. Ressalto, também, a importância da genealogia do poder, tratada por Michel Foucault, como inspiração metodológica que perpassa esta pesquisa.
Quais foram os desafios enfrentados?
Dentre os principais desafios enfrentados, destaco o fato de que eu ainda era arrimo de família e não consegui parar de trabalhar em uma atividade que não era próxima da vida acadêmica. Além disso, minha filha nasceu faltando um ano para o fim do doutorado. Diante disse, foi bastante cansativo realizar a pesquisa.
Quais foram os principais resultados alcançados?
Do mesmo modo que a MINUSTAH apresentou-se como forma de “gerir” alguns conflitos associados à violência cotidiana que permeia o Haiti, a MINUJUSTH também deve se caracterizar como uma missão que almeja colocar a instabilidade haitiana dentro de níveis “aceitáveis”, de forma que não afete em demasia a governança global vigente. Foi possível deslocar a análise dos problemas e interesses envolvidos na missão de paz no Haiti como meras questões de “Estado” (focadas na construção de instituições estatais), passando a entendê-las de forma mais ampla, a partir da perspectiva de “governo” (enquanto nova forma de gerir os negócios, a terra, a produção, a política, as resistências, a população, enfim, os elementos que caracterizam a sociedade haitiana). Além disso, os vínculos entre as práticas de pacificação no Haiti e no Rio de Janeiro mostraram-se como mais um elemento de análise, que auxilia o estudo das recentes operações de paz da ONU a partir de uma perspectiva crítica das Teorias de Relações Internacionais, que questione as fronteiras supostamente explícitas e insuspeitas entre os âmbitos nacional e internacional.
Descreva, resumidamente, a importância acadêmica e social de sua pesquisa, isto é, sua contribuição para o universo científico e o cotidiano das pessoas.
Entendo que minha pesquisa auxilia no estabelecimento de um olhar menos maniqueísta sobre a realidade de países como o Haiti, ofertando à sociedade um conhecimento mais complexo (e acolhedor), por exemplo, em relação à população haitiana que vive no Brasil. Além disso, o estudo sobre os processos de pacificação implantados pelo Brasil no exterior (Haiti) e em âmbito doméstico permite um olhar mais complexo sobre a participação das forças armadas no processo de estruturação da sociedade brasileira, auxiliando- nos a compreender, por exemplo, a forma como as relações civis-militares têm sido estabelecidas na atualidade – algo que tem definido o futuro da nossa democracia.
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