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Os parques eólicos e seus impactos na vida das comunidades locais

Publicado: Sexta, 16 de Dezembro de 2022, 15h00

raquel fernandes de macedoRaquel Fernandes de Macedo, egressa do Programa de Pós-Graduação em Energia da UFABC, pesquisou, durante o doutorado, os fatores que afetam o apoio dos residentes a projetos de implantação de parques eólicos em destinos turísticos costeiros. 

Um de seus principais objetivos era analisar os impactos da instalação de torres eólicas – ou aerogeradores, que convertem a energia dos ventos em eletricidade – em comunidades turísticas do Rio Grande do Norte, a partir das percepções de seus moradores. Para tanto, propôs-se a desenvolver um instrumento analítico de pesquisa e um modelo estrutural de relacionamento para investigar suas inter-relações.

De acordo com a pesquisadora, uma das maiores contribuições de seu trabalho é demonstrar que, embora os parques eólicos sejam importantes para a geração de energia, os projetos de implantação devem considerar os impactos negativos que podem causar à população residente nas proximidades, seja em suas atividades econômicas ou em sua saúde, dentre outros aspectos. 

Além de doutora em Energia pela UFABC, Raquel é mestra e graduada em Turismo pela UFRN. Cursou, também, duas especializações – em Docência no Ensino Superior e em Tutoria em Educação a Distância – pela Faculdade de Educação São Luís. Atualmente, é professora substituta do Departamento de Turismo da UFRN. 


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Dados | Egressa 

Nome completo 
Raquel Fernandes de Macedo 

Formação acadêmica (cursos e instituições) 
∙ Doutorado em Energia pela Universidade Federal do ABC; 
∙ Mestrado em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte; 
∙ Especialização em Docência no Ensino Superior pela Faculdade de Educação São Luís;
∙ Especialização em Tutoria em Educação a Distância pela Faculdade de Educação São Luís; 
∙ Graduação em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 

Profissão / experiência profissional

Sou turismóloga. Atualmente, atuo como professora substituta do Departamento de Turismo da UFRN, e como facilitadora da linha de pesquisa Turismo e Hotelaria do Grupo de Pesquisa Método do Caso. Já atuei como professora de cursos técnicos do Pronatec e de um curso de pós-graduação em Gestão de Pessoas; e como assessora no planejamento e execução de eventos de cursos do Pronatec, do IFPB e da UFRN. 

Programa de pós-graduação e curso (mestrado ou doutorado) concluído na UFABC
Doutorado em Energia. 

Como sua trajetória neste curso de pós-graduação na UFABC contribuiu para sua formação? 
A graduação em Turismo já teve um caráter interdisciplinar, que foi fortalecido com o conhecimento construído na UFABC. É interessante que em algumas disciplinas que ministro, como Teoria Geral do Turismo II, quando dou aulas sobre subsistema ecológico cito algumas situações referentes à minha própria vivência no doutorado. A ida para a comunidade que escolhi para a pesquisa me ajudou a conhecer um pouco da realidade de pessoas que residem próximo a torres eólicas, e como isso, de alguma forma, mexe com atividades como o turismo, a pesca e a agricultura, trazendo impactos que interferem na vida das pessoas. 


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Dados | Tese 

Título 
Fatores que afetam o apoio dos residentes a projetos de implantação de parques eólicos em destinos turísticos costeiros 

Data da defesa 
16 de maio de 2019 

Nome do orientador 
Prof. Dr. Sinclair Mallet Guy Guerra (In memorian) 

Linhas de pesquisa 
Impactos; políticas públicas; questões culturais e de geopolítica da energia. 

Link para a tese 


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Questões | Pesquisa 

Qual o tema da sua pesquisa e por que o escolheu? 
O tema referia-se aos impactos dos parques eólicos em comunidades turísticas costeiras. O motivo da escolha foi o seguinte: passei algum tempo, antes de entrar na pós-graduação, no grupo de pesquisa ‘Relação pessoa-ambiente’, que era um grupo de pesquisa que trabalhava com psicologia ambiental e estudava a relação de apego ao lugar dos residentes e os impactos das eólicas. Assim, como sou turismóloga, reuni o que aprendi nesse grupo de pesquisa e relacionei ao turismo, que é minha área de formação, trazendo essa lógica para o curso de pós-graduação em Energia. 

Quais eram seus objetivos (gerais e específicos)? 
Objetivo geral: investigar as inter-relações existentes entre os fatores que afetam o apoio dos residentes aos projetos de implantação de parques eólicos em destinos turísticos costeiros. 
Objetivos específicos: em relação às referidas inter-relações: 
1. Desenvolver um instrumento analítico de pesquisa capaz de investigá-las; 
2. Adequar um modelo de mensuração para a composição de dimensões capazes de investigá-las; 
3. Desenvolver um modelo estrutural de relacionamento para investigá-las. 

Como foi sua realização (materiais e métodos, metodologia, corpus etc.)? 
Foi realizada uma pesquisa qualitativa em dois destinos – Galinhos e Rio do Fogo, no Rio Grande do Norte (RN) –, para decidir em qual seria feita a pesquisa quantitativa. 
Optei, então, por realizar a pesquisa quantitativa em Rio do Fogo, porque tanto em Galinhos quanto em Rio do Fogo havia dois parques eólicos com várias torres, mas Rio do Fogo teria mais sete parques eólicos a serem construídos, o que significava que o número de impactos poderia ser maior. 
Em seguida, houve a realização de pré-testes dos questionários da pesquisa quantitativa, para verificar se estariam adequados no momento de efetuar o cruzamento no software SPSS. Foram necessárias duas rodadas de pré-testes, visto que, na primeira vez, o questionário não estava muito adequado, mas foram efetuadas mudanças na forma de perguntar, de modo que o segundo pré-teste deu certo. Na sequência, foi feito um cálculo de mostra, e seguiu-se para os questionários definitivos. Após a aplicação de todos os questionários e a inserção no SPSS, foi utilizado outro software, conhecido como AMOS, que transforma os dados do SPSS em um modelo. 

Quais foram os desafios enfrentados? 
Tive de me mudar para o Rio Grande do Norte para realizar a pesquisa, porque, caso contrário, não seria possível. Solicitei um coorientador da UFRN para me assessorar na pesquisa e na construção do modelo de equação estrutural, porque eu não conhecia ninguém da UFABC que pudesse me auxiliar nisso. 
Por nove meses, porém, a pesquisa esteve parada, visto que, inicialmente, pretendia realizá-la numa área de proteção ambiental em Diogo Lopes (Macau - RN) em que havia alguns parques eólicos, mas era necessário esperar a resposta do conselho gestor do local – que demorou todo esse tempo para fazer uma reunião e depois não autorizou a pesquisa. Creio que o motivo foi o receio de que alguns investidores de eólicas vissem minha pesquisa e decidissem levar mais torres para lá – algo que eles não queriam. 
Decidi, então, mudar o local, e o primeiro ao qual fui foi Galinhos – uma ilha à qual só se chega de barco e, em cuja cidade, o transporte é a pé ou em charretes. Já para Rio do Fogo, não havia ônibus que fosse para lá, então descobri alguns carros de lotação para conseguir chegar até o local. Quando chegava à cidade, o meio de transporte para o deslocamento até a área das comunidades que viviam próximas aos parques eólicos era moto-táxi. 
Outro desafio foi que não faço ideia de quanto gastei para essa pesquisa, e nem solicitei recursos da UFABC para isso – usei o dinheiro da própria bolsa da CAPES. Foram gastos com hospedagem, alimentação e transporte. Houve muita dificuldade para conseguir esse dinheiro, porque precisava da assinatura do meu orientador, que estava doente e, portanto, não estava indo para a UFABC. Como eu estava no Rio Grande do Norte realizando a pesquisa, não havia nem como pedir para meus amigos da pós-graduação fazerem isso por mim, porque meu orientador não se encontrava na UFABC. Por fim, achei que seria melhor fazer a pesquisa por conta, mesmo. Acredito que se houvesse uma assinatura digital na época, teria facilitado muito minha vida. 

Quais foram os principais resultados alcançados? 
Consegui desenvolver meu modelo, a partir do qual notei que a indignação dos moradores era mais com o poder público do que com os investidores das torres eólicas. No caso de Galinhos, por exemplo, cuja água local é salgada, os empresários das eólicas compraram um dessalinizador para a cidade, no entanto, segundo a parceria feita, a responsabilidade para colocá-lo em funcionamento era da prefeitura, que não cumpriu o seu papel. 
Já em Rio do Fogo, houve um conflito direto entre os empresários das eólicas e alguns agricultores, que foram obrigados a vender suas terras por valores muito baixos. Além disso, os novos parques eólicos de Rio do Fogo causavam preocupação nos empresários do turismo, que receavam haver redução dos cardumes de peixes, que são atrativos em uma área de recifes e corais para visitação turística. Considero essa preocupação correta, a partir de minha experiência em Galinhos: lá, os parques eólicos são próximos a uma área do mar em que, de fato, houve redução de peixes, afetando também a pesca. De acordo com o relato de um pesquisador, numa área que se pescava 50 kg de peixe, agora pescava-se apenas 2 kg. 

Descreva, resumidamente, a importância acadêmica e social de sua pesquisa, isto é, sua contribuição para o universo científico e o cotidiano das pessoas. 
A importância acadêmica é trazer contribuições para os pesquisadores da área de energia, uma vez que a decisão do local de implantação dos parques eólicos depende da quantidade de impactos que serão provocados. Pode-se dizer, então, que as torres eólicas são importantes para a geração de energia, mas que se deve observar onde serão provocados menos impactos negativos.
Quanto à importância social, a pesquisa demonstrou que a implantação de qualquer torre eólica afeta a comunidade que mora nas proximidades, seja nas atividades econômicas (agricultura, pesca e turismo) ou na saúde dos residentes (zumbidos, tonturas etc.), de modo que todos esses pontos precisam ser analisados antes da implantação.

Registrado em: Pesquisas pós-graduadas
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