Construído coletivamente, Congresso UFABC supera marca de 70 atividades nesta edição
No 6º ano do evento, membros da comunidade sugeriram atrações para os 2 dias da programação
O Congresso UFABC tomou proporções superlativas em sua sexta edição. Ocorrido em duas datas – 27 em Santo André e 29 em São Bernardo do Campo -, o evento contou com atrações culturais, mesas de debate, oficinas e sessões de divulgação científico-extensionista. Ao todo, foram mais de 70 atividades. Neste ano, pela primeira vez, os membros da comunidade universitária propuseram atividades por meio de chamada interna.
O reitor da Universidade, Dácio Matheus, e a vice-reitora, Mônica Schröder, comandaram a mesa de abertura. Durante cerca de 30 minutos, eles falaram, de improviso, para um auditório lotado. Depois das falas dos professores, o mesmo espaço recebeu a mesa de debate “Desafios e oportunidades da utilização das TICs e da IA no ensino de graduação”.
Schröder, antes da abertura, explicou que, desde o início, o objetivo era horizontalizar a montagem da programação. “Neste ano, com o lançamento da chamada pública, conseguimos fazer isso, envolvendo toda a comunidade”.
A professora acredita que a diferença entre os perfis do evento nas duas sedes ocorre estritamente pela natureza dos cursos de formação específica oferecidos em Santo André e São Bernardo do Campo. “As modalidades de atração são as mesmas nos dois campi e houve um equilíbrio de propostas também. O que muda decorre do conteúdo dos cursos. Do ponto de vista do engajamento e da animação, nós observamos a mesma coisa”, afirmou.
O professor Dácio traçou um panorama cronológico do congresso e destacou que as duas últimas edições, foram voltadas às questões relacionadas ao Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e passou nesta edição a apresentar os contornos para os quais foi planejado, desde sua primeira edição, em 2019.
“Tivemos, nas primeiras edições, uma discussão muito institucional, sobretudo na construção do PDI. Mas agora, aberto a toda a comunidade, começa a ganhar seu formato definitivo”, disse. “O congresso consolida, a partir deste ano, a sua proposta. Ele foi pensado para ser um espaço de reflexão crítica sobre a própria Universidade e sua relação com a sociedade”.
Atrações em Santo André
O debate que sucedeu a mesa de abertura abordou o uso de Tecnologia da Informação e Comunicações (TICs) e Inteligência Artificial (IA) no Ensino Superior. As apresentações da professora Jaciara de Sá Carvalho, da Universidade Estácio de Sá (Unesa), Miguel Said Vieira, da UFABC, e Fernando Santos Osório, do ICMC-USP, foram mediadas pela pró-reitora de Graduação da Universidade, Fernanda Cardoso.
“As tecnologias da informação e comunicação já eram uma realidade antes da pandemia (2020-2022), mas o contexto de afastamento social intensificou seu uso, apontando para a necessidade de regulamentação adequada de sua utilização”, disse Fernanda. “Além disso, a velocidade e intensidade das transformações tecnológicas colocaram em foco a inteligência artificial, trazendo muitas dúvidas sobre os desafios e oportunidades de sua utilização, incluindo seu uso no ensino”, completou, antes do início das explanações.
Na mesa dedicada à diversidade (“A UFABC e o acolhimento LGBTQIA+ que queremos: Desafios e Percepções”), a moderadora Leona Santos, da UFABC, explicou, logo no começo de sua oratória, que os convidados (Carolina Iara, Matheus da Cruz, Tiely Santos) debateriam as políticas públicas voltadas à temática na Universidade. Ela enumerou os avanços em contraponto às ações externas para negar direitos à população trans.
“A UFABC é pioneira nas políticas para pessoas LGBT no Brasil. A gente tem uma discussão ampla, desde 2016, sobre o uso dos banheiros, temos campanhas institucionais e a semana da diversidade. Mas é interessante notar que chega um momento em que as políticas afirmativas para pessoas trans começam a ser deslegitimadas”.
Um pouco mais tarde, a mesa “As Big Techs e a Ciência Popular” ocupou o auditório. Nela os estudantes de graduação Gabriel Santos, Gabriela Pereira, Kelly Uehara e Angelo Del Rey analisaram o quanto o mercado de trabalho, a pesquisa e a conjuntura social brasileira são afetados pelo monopólio das grandes empresas de tecnologia.
“Todos que estão envolvidos neste meio – estudantes, técnicos e professores - podem contribuir para uma ciência voltada para o nosso povo, invertendo essa lógica e fazendo, a partir da pesquisa e extensão, uma ciência popular”, afirmou Gabriel.
Além das mesas, houve atrações no Campus Santo André como as oficinas “Tenho um aluno surdo, e agora?”, “Ciências e literatura brasileira no início do século XX: práticas para pensar a cultura” e a “Elaboração de projetos de parcerias institucionais”, entre outras. No piso térreo, a exposição “Interferofotoscópio — Desnaturalizando olhares” ganhou espaço.
Poética nas artes visuais
A mesa intitulada “Práticas artísticas nas margens: caminhos para a extensão universitária”, teve a participação da curadora, pesquisadora e crítica de arte Lola Mayer Fabres, do gestor cultural, filósofo, e doutor em estética e história da arte Luciano Nascimento Figueiredo e o arquiteto, professor e pesquisador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Central do Equador Carlos Hidalgo Zunino, sob a mediação de Samon Noyama.
Nesse encontro houve a discussão de estudos de caso em que a experimentação poética nas artes visuais emerge de instâncias de interlocução com as práticas sociais do território onde se desenvolve. Além disso, a apresentação abordou a arte como dispositivo de ação extensionista articulando o campo universitário com seu entorno social.
Lola lembrou que a riqueza da mesa estava no vínculo dos participantes com um propósito comum “pesquisadores que acreditam na extensão e acreditam na prática das artes visuais como ferramental de atravessamento, vinculação e estabelecimento de elos, entre os saberes universitários acadêmicos e outros saberes, de um entorno social que nos acompanha e que, portanto, pode nos ajudar a pensar a educação, meio ambiente e outros atravessamentos de campos do conhecimento”.
São Bernardo: questão racial, feminismo, desafios na docência e 15 anos do BC&H
No dia 29, no Campus São Bernardo do Campo, as atividades do Congresso UFABC contaram também com mesas de debates que trataram de feminismo, condições de trabalho dos docentes, 15 anos do Bacharelado em Ciências e Humanidades e a questão racial. Com o título “Conexões feministas no ABC: os trinta anos das Promotoras Legais Populares”, esse encontro ocorrido pela manhã reuniu militantes do movimento feminista e com atuação no projeto de Promotoras Legais Populares (PLP). Há três décadas, essa iniciativa trabalha na difusão do conhecimento e do acesso aos direitos das mulheres em camadas populares de diversas cidades do país.
A mediação ficou a cargo da professora Júlia Glaciela da Silva Oliveira e teve como convidadas: Amelinha Teles, fundadora da União de Mulheres de São Paulo e articuladora da proposta de PLP na capital paulista; Malu Monteiro Canale do Promotoras Legais Populares de Santo André (PROLEG), Dulce Xavier do PLP de São Bernardo do Campo; além da professora da UFABC Arlene Martinez Ricoldi. O tema da mesa mantém relação com o projeto de extensão da UFABC ”Memórias feminista: conexões e resistências no ABC”, que integra o Núcleo de Gênero – Esperança Garcia (NEG/UFABC).
À tarde, o encontro “Condições de trabalho docente na UFABC: entre a precarização geral e as demandas do projeto pedagógico” discutiu as dificuldades enfrentadas pelos profissionais do magistério no exercício de suas atividades nas instituições públicas de ensino superior. Helton Souza do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN) mostrou dados de uma enquete nacional sobre condições de trabalho e saúde de docentes de universidades públicas, institutos e centro federais de educação.
A professora Maria Caramez Carlotto, proponente da mesa pela Associação de Docentes da Universidade Federal do ABC (ADUFABC), apresentou os desafios enfrentados pelos professores da Universidade na última década, destacando redução orçamentária, perseguição ideológica e necessidade de ampliações estruturais e de pessoal. Ela citou a existência de uma percepção comum entre os docentes de que as condições de trabalho têm se deteriorado nos últimos anos. Os oradores tiveram como mediador o professor Demétrio Gaspari Cirne de Toledo.
A penúltima sessão do dia, "15 anos do BC&H: gênero e raça no centro do ensino, da pesquisa e da extensão”, tratou da passagem de uma década e meia de existência do Bacharelado em Ciências e Humanidades na UFABC. As apresentações se dedicaram a recapitular a trajetória do curso com suas mudanças, desenvolvimento e perspectivas. O destaque foi a forma como a proposta curricular agregou conteúdos que envolvem dimensões de gênero e raça, levando o tema aos centros de ensino, à pesquisa e à extensão.
Dentre os desafios citados, está a construção da identidade do BC&H cada vez mais centrada na formação de profissionais de pensamento crítico e capazes de enfrentar as persistentes desigualdades sociais. A professora Thais Tartalha Lombardi mediou a mesa, que foi composta pela coordenadora do curso, professora Roberta Peres, pela aluna egressa Bruna Mendes e pelas professoras Ester Regina Vilela Andrade e Regimeire Oliveira Maciel.
A útlima mesa foi “A questão racial na UFABC: docência, cotas e a Universidade dez anos após a Lei 12.990” com a participação do defensor público e coordenador no Núcleo Racial da Defensoria Pública de São Paulo Vinícius Conceição Silva Silva, professor titular de sociologia da Universidade Federal de Goiás Luiz Mello, professor da UFABC e proponente da mesa Paulo Neves e professora da UFABC e vice-coordenadora do Comitê de Pesquisa em Gênero e Sexualidade da Sociedade Brasileira de Sociologia Regimeire Maciel, sob a moderação de Carolina Bezerra.
Em sua apresentação, o professor Paulo Neves explicou que a mesa “surge num quadro de uma discussão sobre como a UFABC tem lidado com as Leis relativas à adoção de ações afirmativas para alunos e, também, na docência”. Lembrou que aqui na UFABC, assim como em outras universidades, há muitos desafios a serem superados para que se consiga aplicar nos concursos docentes o que preconiza a Lei 12.990.
A professora Regimeire em sua fala, fez algumas considerações sobre os concursos para docentes realizados na UFABC e o ingresso de docentes negros, propondo uma auto avaliação sobre o insucesso sobre alguns pontos, entre eles do “número baixo de inscritos ou a ausência de candidatos(as) na área em que a reserva ocorreu pode indicar, inicialmente, a existência de um número reduzido de pessoas qualificadas academicamente na área em questão”.
Após explanar sobre as dificuldades enfrentadas pela UFABC para se fazer cumprir a Lei em relação aos concursos docentes, Regimeire fechou sua fala com algumas propostas a fim de criar um processo de reparação à política de ação afirmativa neste contexto. Propôs também, como integrante do Núcleo de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros da UFABC (NEAB), uma proposta mais ousada, onde a UFABC definisse “que todas as vagas de novos concursos docentes previstos sejam exclusivos para pessoas negras até reverter o déficit criado pelas falhas nos procedimentos da reserva de vagas previstas na Lei 12.990/2004”. Além disso, acrescentou a sugestão da Universidade “passar a contabilizar os concursos com cotas em que não houve nenhuma pessoa cotista aprovada, estabelecendo compensação no próximo concurso”.
A programação completa do VI Congresso UFABC pode ser acessada aqui.
Confira a Playlist de Vídeos das Mesas de Debate.
Veja as fotos do evento no Flickr da UFABC.
Assessoria de Comunicação e Imprensa - UFABC
Redes Sociais