Empresa brasileira formada por ex-alunos e aluno da UFABC envia satélite totalmente nacional ao espaço em foguete norte-americano
O satélite PION-BR1 foi produzido pela startup PION Labs, formada por Calvin Trubiene e Gabriel Yamato, ambos ex-alunos da UFABC, junto com João Pedro Vilas Boas, ainda estudante da instituição, e Bruno Costa, ex-aluno da UERJ.
Na tarde do dia 13 de janeiro, quatro jovens, com idades entre 24 e 31 anos, promoveram um feito histórico ao enviarem para o espaço o 1° satélite totalmente brasileiro e de iniciativa privada, através do foguete Falcon 9, da empresa estadunidense SpaceX, por intermédio da parceria com a Alba Orbital.
O PION-BR1 possui 125 cm³ e é considerado um pico satélite (satélites com peso entre 0,1 e 1 kg), também conhecido como PocketQube, e foi montado inteiramente em um laboratório da startup localizado em São Caetano do Sul (SP), no período de 7 meses.
Seu principal objetivo, ao ser enviado ao espaço, é criar uma “herança de voo”, isto é, a captação e análise de informações referentes a sua capacidade de comunicação, temperatura interna e externa, bateria, e as demais questões que envolvem o desempenho do satélite no ambiente extremo para o qual ele foi desenvolvido.
O tempo de vida estimado do equipamento é de dois anos, até que ele se desintegre ao entrar na atmosfera terrestre.
A partir das informações colhidas, os jovens pretendem lançar projetos de maior alcance, voltados para soluções de monitoramento ambiental e também da chamada Internet das Coisas (IoT). Sobre isso, Calvin Trubiene afirmou:
“Em longo prazo, queremos aperfeiçoar essas descobertas e transformá-las em soluções de monitoramento de sustentabilidade e segurança, como muitos players do agronegócio e da preservação da Amazônia demandam. Em um segundo momento, também pensamos em expandir a atuação para a América Latina".
O lançamento, que ocorreu no dia 13 de janeiro de 2022, em Cabo Canaveral, na Flórida, foi possível em decorrência da parceria com a empresa Alba Orbital, que facilitou o envio do satélite na missão SpaceX Transporter 3, que envia satélites de diversos países ao espaço.
A startup PION Labs
A formação do grupo aconteceu em 2017, a partir de uma competição estadunidense anual de montagem de foguetes, a Spaceport American Cup (SAC), quando conheceram o integrante Bruno Costa, formado em Engenharia Mecânica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Já Calvin Trubiene e Gabriel Yamato estudaram na Universidade Federal do ABC, onde tornaram-se Bacharéis em Ciência e Tecnologia e em Engenharia Aeroespacial, junto com João Pedro Vilas Boas, também bacharel em Ciência e Tecnologia, e atualmente estudante de Engenharia de Instrumentação Automação e Robótica na instituição.
Desse encontro dos quatro, que tinham interesses em comum, nasceu a startup PION Labs - nome em homenagem ao físico brasileiro César Lattes, um dos responsáveis pela descoberta da partícula subatômica píon.
Com o objetivo de ampliar o acesso de estudantes brasileiros, do ensino fundamental ao superior, às tecnologias espaciais, a startup promoveu reproduções de mini-satélites que pudessem ser manipuladas pelos estudantes, os “Satélites Educacionais”, e disponibilizaram - ao vencerem a licitação da Olimpíada Brasileira de Satélites MCTI, em 2020 - kits educativos para facilitar a aprendizagem baseada em projeto de missão espacial.
"Mesmo com a corrida espacial iniciada no século passado e retomada nos últimos dois anos, os assuntos do universo ainda são distantes para boa parcela da população. Por isso, queremos democratizar o acesso e aproximar as pessoas do espaço", declarou João Pedro Vilas Boas.
Além disso, a PION Labs realizou a Latin America Space Challenge (LASC), um campeonato sul-americano de criação de foguetes, inspirado no campeonato mundial SAC, permitindo que novas equipes pudessem viver essa experiência.
O papel da UFABC na trajetória dos jovens
Ao comentarem a respeito da importância da UFABC em suas trajetórias, os jovens ressaltaram o impacto do ensino interdisciplinar, promovido pela instituição, no processo de trocas de conhecimento, como afirmou Calvin Trubiene:
“A formação interdisciplinar da UFABC nos trouxe uma maior facilidade com os diversos eixos da ciência e tecnologia promovendo possibilidades de soluções fora da caixa e de forma rápida.
Isso se deve ao formato dos Bacharelados Interdisciplinares, nos quais o aluno desenvolve um perfil acadêmico em diversas áreas do conhecimento e sempre em contato com outros alunos de diferentes formações. Isso promove a troca de ideias e uma visão de aplicação para que soluções sejam desenvolvidas rapidamente para cada problema apresentado nas disciplinas cursadas.
Na carreira profissional, toda essa interdisciplinaridade promovida pela UFABC facilitou a entrada no mercado de trabalho por conta de uma maior gama de conhecimento adquirido durante a graduação, maior envolvimento no trabalho em equipe e uma visão voltada para a execução dos projetos com soluções inovadoras e de baixo custos, ou seja, aquilo que o mercado busca em recém-formados."
“Na PION, a formação interdisciplinar da UFABC facilitou o time a trabalhar nas mais diversas frentes da empresa sempre de forma ágil e inovadora, com pensamento crítico e de aplicação para que o projeto do satélite PION-BR1 fosse desenvolvido e lançado com sucesso.” (Calvin Trubiene)
Outro ponto relevante para os integrantes da PION Labs, em relação à Federal do ABC, foi a interação com docentes e a pesquisa na área de Engenharia Aeroespacial. De acordo com Gabriel Yamato:
“O contato próximo com docentes do curso, em conjunto com os programas de pesquisa, como o PDPD - Pesquisando Desde o Primeiro Dia, Iniciação Científica, Trabalho de Graduação e as próprias atividades extracurriculares instigaram mais o estudo e o aprofundamento de conhecimentos nos temas que hoje foram a base da minha trajetória profissional e alinhado com as atividades da PION Labs.”
Além disso, Trubiene relembrou que, quando foi um dos fundadores da equipe UFABC Rocket Design, em 2010, contou com a ajuda de diversos professores, como a Profa. Dra. Thais Maia Araujo, na criação de sua equipe para pesquisa e desenvolvimento de foguetes experimentais. O engenheiro também comentou o apoio do Prof. Dr. Diego Paolo Ferruzzo Correa, que “suportou a ideia de um satélite ainda quando a startup PION ainda nem havia sido formada”.
Nesse mesmo sentido, João Pedro Vilas Boas relatou que, em uma das disciplinas que cursou, da Engenharia Aeroespacial, o docente explicou sobre a participação que desempenhou no projeto do NanoSatC-BR2:
“Esse fato despertou minha curiosidade, pois pude compreender que o espaço estava muito mais perto do que imaginava, e a partir desse momento me dediquei a entender mais sobre o assunto de nanosatélites e como poderia começar a desenvolver uma iniciativa nesse meio, após alguns anos a ideia se amadureceu na empresa e prosseguimos com o projeto do primeiro satélite de uma Startup brasileira.”
Por fim, para os ex-alunos e para o aluno da Universidade Federal do ABC, o processo de internacionalização também foi facilitado pela instituição, tanto pelo contato com profissionais e instituições do exterior - através das atividades acadêmicas e das disciplinas ministradas em inglês -, quanto por programas de mobilidade, como o Ciências sem Fronteiras, que possibilitou, para Trubiene, o intercâmbio de Engenharia Mecânica, por período Sanduíche, na University of Victoria, no Canadá.
Texto: Assessoria de Comunicação e Imprensa (ACI UFABC). Fotos: Divulgação PION Labs
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