História da Ciência: docente da UFABC analisa manuscrito da primeira tradução francesa do livro ‘Óptica’, de Isaac Newton
O Prof. Dr. Breno Arsioli Moura, do Centro de Ciências Naturais e Humanas da UFABC, publicou, recentemente, um artigo na revista Notes and Records, um dos principais periódicos de história da ciência editado pela The Royal Society of London.
Intitulado The first French translation of Book II of Newton's Opticks: omissions, abridgements and the quest for authorship (“A primeira tradução francesa do Livro II do ‘Óptica’ de Newton: omissões, abreviações e a busca pela autoria”, em tradução livre), o texto apresenta um estudo sobre um manuscrito original do século 18, analisado pelo pesquisador durante um pós-doutorado realizado em 2020, na França.
Trata-se de uma pesquisa histórica e documental, na área de humanidades, que envolveu a consulta do referido manuscrito na Bibliothèque de l'Arsenal, em Paris – a possível primeira tradução francesa do livro "Óptica", de Isaac Newton (1642-1727), publicado originalmente em inglês, em 1704. O material corresponde ao Livro II, no qual Newton discutiu as cores dos corpos e dos anéis coloridos em filmes finos e espessos.
A tradução é atribuída ao químico francês Étienne-François Geoffroy (1672-1731), que obteve uma cópia da primeira edição do “Óptica” por meio de um amigo próximo: Hans Sloane, o então Secretário da The Royal Society of London.
Segundo o professor Breno, foi a primeira vez que esse manuscrito foi analisado detalhadamente. Esse estudo fez parte de um projeto de pesquisa no exterior financiado pela FAPESP, que buscou analisar a recepção da óptica newtoniana na França e em Portugal no século 18.
O manuscrito é anônimo e sem data, no entanto, acredita-se ser de autoria de Geoffroy por alguns fatores, indicados pelo docente no artigo e resumidos a seguir:
1. O químico francês conhecia bem a língua inglesa;
2. Não foi realizada uma tradução literal do texto original, mas foram enfatizadas as partes em que Newton discutiu temas da química – o que, provavelmente, seria o que um químico faria ao traduzir o "Óptica";
3. Evitou-se a tradução de ideias muito polêmicas, priorizando-se uma apresentação geral dos conceitos elaborados por Newton (com ênfase na química);
4. O manuscrito possui escrita elegante, sem rasuras, o que indica que foi preparado para publicação ou transcrição nas memórias da Academia de Ciências de Paris – para cujos membros a tradução foi lida por Geoffroy, entre 1706 e 1707, conforme consta no livro de minutas.
A pesquisa publicada traz, na primeira parte, uma apresentação do manuscrito e do estudo inicial realizado pelo historiador da ciência I. Bernard Cohen (1914-2003), na década de 1960. Na segunda parte, seu conteúdo é analisado em detalhes, demonstrando que o tradutor anônimo optou pela tradução de partes específicas do "Óptica", com a omissão de vários outros trechos importantes. Por fim, na terceira parte, o autor comenta porque considera que Geoffroy era o verdadeiro autor do manuscrito, levando em consideração não apenas as evidências historiográficas debatidas anteriormente, mas também o contexto da época.
O artigo original por ser acessado nesta página.
Imagens cedidas pela Bibliothèque Nationale de France (BNF):
Assessoria de Comunicação e Imprensa da UFABC
Redes Sociais