Pesquisa em Neurociência e Cognição contribui para o sucesso de atletas do basquete
Estudo analisa a importância da fixação do olhar para o acerto de arremessos e os efeitos da estimulação cerebral sobre a estratégia visual
Um projeto de pesquisa coordenado pelo Prof. Dr. Alexandre Hideki Okano, com a colaboração da Profa. Dra. Katerina Lukasova, do Centro de Matemática, Computação e Cognição da UFABC, contribuiu para o sucesso do basquete feminino de Santo André.
Intitulada “Estratégia visual e neuromodulação não invasiva no basquetebol”, a pesquisa propõe-se a compreender melhor o fenômeno quiet eye (QE) no esporte. Observado com frequência em atletas de elite, caracteriza-se pela fixação do olhar de rastreamento em um local específico, antes da conclusão de uma tarefa – como acertar a bola na cesta.
O projeto objetiva, ainda, comparar estratégias visuais de arremessos (bem-sucedidos e malsucedidos) de atletas em diferentes níveis de habilidades, e verificar os efeitos da estimulação cerebral não invasiva sobre essas estratégias, o desempenho no arremesso e o nível de atenção.
O comportamento do olhar e a atenção visual no esporte vêm sendo cada vez mais estudados, por estarem relacionados a processos decisórios de atletas. Segundo o pesquisador, “evidências científicas apontam que o comportamento do olhar está intimamente ligado aos processos atencionais através do quiet eye”.
De acordo com o professor, a inovação desta pesquisa reside na exploração do paradigma perceptivo-cognitivo, e não apenas do paradigma do controle motor, como a maioria dos demais trabalhos referentes a essa temática. “Este fenômeno tem sido exaustivamente pesquisado na literatura, mas a maioria dos trabalhos na área do esporte de alto rendimento analisa-o pelas cinco fases que o compreendem (localização do QE, início do QE, fase do movimento, offset e duração do QE) associadas ao desempenho motor, avaliando-o pelo paradigma do controle motor. Só recentemente novos trabalhos vêm pesquisando os processos atencionais, explorando-os através do paradigma perceptivo-cognitivo”.
O estudo envolve pesquisadores de três instituições: além da Universidade Federal do ABC, Prof. Dr. Alexandre Moreira da Universidade de São Paulo (Escola de Educação Física e Esporte) e Prof. Dr. Edgard Morya do Instituto de Ensino e Pesquisa Alberto Santos Dumont (Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra). Há, ainda, uma parceria com a empresa Brain Support, que realiza estudos neurocientíficos.
Outra participante da UFABC é a doutoranda Luciane Aparecida Moscaleski, do Programa de Pós-Graduação em Neurociência e Cognição, sob orientação do professor Okano e coorientação do Prof. Dr. Alexandre Moreira (EEFE/USP). Luciane é ex-atleta profissional de basquete – encerrou sua carreira em 2018, na equipe feminina de São Bernardo do Campo, desde então, atua como preparadora física. Posteriormente, ingressou na UFABC e, com a anuência da Secretaria de Esportes de Santo André, começou a investigar na prática o que estuda na pós-graduação, em treinos e jogos da equipe de basquete feminino.
Os dados obtidos no protocolo inicial estão em análise, mas os resultados preliminares já indicam um ganho esportivo. Uma das atletas da equipe – Simone Lima (in memoriam) – é um bom exemplo. Recentemente, a pivô viu seu aproveitamento no lance livre subir de 56% (14/25) para 68,75% (11/16), com um impressionante desempenho de 81,81% (9/11) na série final contra o time Vera Cruz. Na ocasião, ela relatou que colocou em prática o que aprendeu após os testes com os óculos de eye tracking, que permitem medir a posição e o comportamento do movimento ocular. A referida série final foi decisiva para a conquista do título do Campeonato Paulista Feminino de Basquete, em dezembro do ano subsequente às coletas da equipe. Os pesquisadores explicam que, com as orientações corretas, as atletas podem perceber as informações mais cedo e adquirir uma transmissão de comandos de maior qualidade para o sistema motor.
"Eu fazia a análise dos jogos e, nos últimos lances livres (na decisão), a cada acerto eu olhava para o professor Okano, que estava na arquibancada, e era uma satisfação por ver o trabalho saindo do papel e sendo executado", relembra Luciane. "As informações do padrão de olhar podem ser utilizadas pelos técnicos para melhorar o desempenho num aspecto importante para o atleta, que é a fase de aquisição da informação sensorial, seguida pela execução da ação que foi planejada no momento anterior", afirma.
Além disso, o protocolo envolveu a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC). Trata-se de um método avançado de neuromodulação aplicado para modificar a excitabilidade cerebral de forma segura. "Esperamos trazer mais conhecimento científico aplicado ao esporte, e a neuromodulação pode ajudar a melhorar a atenção e a percepção."
Assessoria de Comunicação e Imprensa da UFABC
Com informações do Estadão: Ciência contribui para o sucesso do basquete feminino de Santo André.
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