Editorial
Estimadas leitoras e estimados leitores,
Esta é uma edição especial do Informativo PesquisABC, pois dedicada especialmente a trabalhos científicos conduzidos por pesquisadoras da UFABC. Nesta edição, encontraremos artigos com diferentes objetos de estudo científico e diferentes métodos e formas de interação e inserção nas ciências, demonstrando cabalmente a importância do que as pesquisadoras da UFABC realizam em seu cotidiano de trabalho. São realizações múltiplas a partir da dedicação dessas pesquisadoras à produção e à circulação do conhecimento científico, e aprofundadas nas parcerias que articulam e lideram e nos resultados que suas pesquisas produzem para ampliar a importância de nossa instituição na sociedade brasileira. Ademais, nesta edição, temos artigos de docentes e pesquisadoras vinculadas aos três Centros interdisciplinares que caracterizam a estrutura da UFABC.
A publicação deste Informativo PesquisABC se une a outras tantas iniciativas de incentivo e homenagem à ciência brasileira, como o já reconhecido 8 de julho, marcado pelo "Dia da Ciência" e o "Dia Nacional do Pesquisador Científico".
Esta publicação é uma das formas que busca destacar a importância das ciências para o desenvolvimento sustentável do país e para o cotidiano das pessoas, e também para valorizar todas e todos que atuam nos vários campos do conhecimento científico.
Estas comemorações, mais do que necessárias diante do que se impôs ao país em tempos tão recentes, em que os resultados e o método científicos foram questionados e negados por figuras públicas ⎼ e mesmo por parcela da sociedade ⎼, são também oportunidade para jogar luz sobre as desigualdades de gênero nas ciências e no ensino superior, que provocam assimetrias estruturais importantes no campo científico.
As pesquisadoras ainda são minoritárias nas ciências, com participação inferior a 30% no total de pesquisadores nos países do mundo. Esta participação varia muito de acordo com a área do conhecimento: nas ciências da vida e da saúde, por exemplo, as mulheres são a maioria dos pesquisadores (mais de 60%), enquanto nas ciências da computação e na matemática elas representam menos de 25%. Ainda que estes percentuais sejam mais elevados no Brasil, considerando pesquisadoras já formadas e nos programas de pós-graduação, a participação relativa é menor quando consideramos a ocupação dos cargos de chefia e de liderança nos ambientes acadêmicos e de pesquisa.
São estatísticas conhecidas, que, evidentemente, possuem dinâmica, nuances e manifestações que variam ao longo do tempo e dos contextos das sociedades, porém, elas constituem a métrica das condições que as pesquisadoras enfrentam e têm de transformar para o desenvolvimento de suas trajetórias e de suas contribuições científicas.
Desse modo, sem entrar nas especificidades ainda pouco refletidas nas estatísticas correspondentes à condição das mulheres nos vários estágios da carreira científica ⎼ da formação na graduação à pós-graduação, passando pela efetivação e progressão na carreira docente e em grupos de pesquisa, e também à frente de postos de liderança nas instituições e na comunidade científica, ou se deparando com os desafios inerentes à maternidade ⎼, ou mesmo sem detalhar as muitas dificuldades para se ter dados mais bem organizados e constantes sobre gênero (e mesmo raça) na produção de conhecimento científico, o fato é que a representatividade e a diversidade de gênero nos espaços científicos e acadêmicos, com mais pesquisadoras, ainda carecem de mais políticas para efetiva ampliação e perenidade.
As iniciativas públicas, de governos e instituições, são cruciais para visibilizar e lidar com tais desigualdades e assimetrias: é a adoção de medidas efetivas no campo da materialidade e da subjetividade da atuação das docentes e das pesquisadoras, em todo o país, que transformará e incentivará um ambiente institucional mais diverso, representativo e igualitário.
Não se trata só de mérito ou de disciplina de cada uma de nós, deve ser necessariamente um desdobramento concreto de políticas de combate às desigualdades e de mudanças no ambiente institucional, com ações que estimulem a permanência das mulheres nas atividades acadêmicas e de pesquisa científica e com acesso a investimentos para estudos e pesquisas ⎼ enfim, incentivos que permitam às mulheres contribuírem, de forma sustentável, com a excelência da pesquisa científica no Brasil. Todavia, também são cruciais ações e a produção de referências que permitam superar as barreiras que as mulheres enfrentam nos espaços acadêmicos, com mais mulheres em cargos e nos espaços de decisão, por exemplo, e com um tratamento institucional mais empático e mais receptivo às trajetórias e às condições advindas de nossos papéis sociais.
Por isto, a importância de uma iniciativa como esta, do Informativo PesquisABC, que deve se inserir em uma estrutura de incentivos para dar visibilidade às questões de gênero, afinal, a diversidade e a representatividade não são apenas uma resposta a uma estrutura social desigual, representam elemento estruturante das inovações científicas, como têm afirmado os resultados de vários trabalhos investigativos sobre a temática. Na UFABC, iniciativas como esta se inserem, necessariamente, em um conjunto de incentivos a investigações de ponta, com forte caráter interdisciplinar; no fortalecimento da pesquisa, com a atração e o apoio a pesquisadoras e pesquisadores; na manutenção de infraestrutura sólida para pesquisa, inovação e internacionalização, e na ampliação das oportunidades de financiamento e de parcerias advindas do novo marco legal da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Para finalizar, é preciso dizer mais uma vez, que vivenciamos com entusiasmo e orgulho a publicação desta nova edição do PesquisABC dedicada a trabalhos de pesquisadoras da UFABC. Obrigada, então, às pesquisadoras que elaboraram os artigos deste Informativo PesquisABC e que tornaram possível esta edição tão significativa em seu alcance. E obrigada a todas as pesquisadoras da UFABC que, sistematicamente, reafirmam todos os dias a diversidade de gênero como elemento estruturante da ciência, tecnologia e inovação, e que se dedicam a produzir resultados transformadores para toda a sociedade brasileira.
Boa leitura a todas e a todos!
Professora Mônica Schröder, vice-reitora da UFABC
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